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quarta-feira, 23 de junho de 2010

O silêncio.

Meu pai foi uma pessoa que morreu sem compreender a singeleza* do silêncio. Recordo-me de diversas situações em que nós dois estávamos juntos, sozinhos, e ele reclamava da ausência de conversa entre a gente.

Ele interpretava o meu silêncio como antipatia ou desinteresse por ele. Meu pai nunca entendeu – e eu nunca soube explicar – que, se eu ficava em silêncio na presença dele, era por estar tão à vontade, que julgava não ser necessário falar.

Depois de um tempo sendo cobrada por isso, percebi que ele não estava preparado para aceitar o meu silêncio como testemunha da cumplicidade que existia entre nós dois; como algo especial que podíamos compartilhar, sem constrangimento, como pai e filha que éramos.

E foi assim que eu, ainda adolescente, deixei de ser espontânea com o meu pai. Passei a me sentir obrigada a falar o tempo todo sobre algum assunto qualquer. A partir daí, os dias na companhia dele tornaram-se bem menos agradáveis para mim. Imagino que para ele tenha sido o oposto, afinal, eu me adequara à exigência dele de não permitir que o silêncio se manifestasse nas nossas presenças.

E eu acho o silêncio uma manifestação tão verdadeira...

Ainda penso nisso com muita tristeza. Cheguei, algumas vezes, a fingir que estava dormindo para evitar essas situações.

Acredito que o grau mais elevado de cumplicidade que duas pessoas podem experimentar é o silêncio que não incomoda, que não causa constrangimento, e que nada tem a ver com falta de assunto ou com falta de interesse pelo outro. Aquele silêncio que tampouco diz respeito a planos concebidos em segredo e nunca compartilhados. Ao contrário, trata-se de um silêncio que deixa implícito o que as duas pessoas levam na alma.

Eu valorizo muito esse tipo de silêncio, porque somente ele dá espaço para que os espíritos se alcancem, para que as almas se conectem. “(...) assim como o som, que precisa do silêncio para se manifestar (...)”, “(...)tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.”

É um entendimento muito mais sutil e muito mais gracioso. É o tipo de silêncio que somente duas pessoas que ‘são em paz’ – sendo coerente com o meu post do dia 11 de junho – conseguem apreciar. É aquele silêncio gostoso durante um abraço, por exemplo.

É o silêncio que não mente, que não esconde; o silêncio que simplesmente se permite acontecer, sem constrangimentos, sem o compromisso com qualquer verbalização.  É um diálogo que se dá por meio de olhares, sorrisos e gestos. É o silêncio inteligente; o silêncio que se basta.

Hoje, nossas conversas têm lugar somente no meu coração; só o que existe entre mim e meu pai é o silêncio. O silêncio dele...


*Reaprendi essa palavra recentemente e me apeguei a ela.

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