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domingo, 27 de junho de 2010

O gato é que sabe viver.

O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. (...) O gato é um médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber!” (Artur da Távola)
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O gato é que saber viver. E demonstra, em cada gesto, tal sabedoria. Invejo muitos aspectos do estilo de vida do gato e tenho muito que aprender com ele. Conviver com o gato é uma verdadeira lição de vida.

O gato é livre e preza essa liberdade. Ai de quem tentar privá-lo dessa condição! O gato veio ao mundo para ser assim. E se aceita viver com seres humanos, é em interesse próprio e em regime de comunhão total de bens: o gato passa, também, a ser dono da casa; faz dela seu território sagrado.

O gato é independente. Pede carinhos, mas retribui se sentir vontade. E se for negado carinho ao gato, ele sequer liga. Porque o gato é senhor de si. Não se abala com pouco. O gato é bem resolvido e não guarda carências. O gato, definitivamente, não é escravo do afeto.  As pessoas deveriam aprender com o gato e seriam mais felizes em seus relacionamentos.

Além disso, o gato não é dado a negociações. Ele decide quando, como e onde. Os seres humanos que aceitem, se quiserem. Não querendo, o gato não esquenta a cabeça, porque é autossuficiente; ele pula, corre, brinca, rola, deita e dorme. Porque é sábio, o gato, e conhece os benefícios de uma boa dose de sono diária. E dorme com entrega total. Não perde o sono com ansiedade e preocupações.

O gato é intenso! Vive na plenitude. Brinca como uma criança despreocupada em um parquinho de diversões. Tem andar elegante e preciso – como os movimentos de uma experiente bailarina. Tem uma autoconsciência corporal que idolatra e resguarda. Tem personalidade caçadora e um ar meio blasé. O gato faz da vida o que quer; é curioso e aventureiro.

Tem olhos intimidantes e misteriosos. O gato sustenta aquele olhar vago, distante, quase ausente, absorto em seus próprios pensamentos. Tente decifrar o que vai no interior do gato nesse momento. Ele vai achar graça! Quem de nós consegue um período de introspecção, sem ser importunado por perguntas do tipo: “o que você está pensando?”; “está tudo bem?”, “por que você ficou tão quieto de repente?”.

O gato gosta do silêncio; não mia à toa. É meditativo e venera o isolamento. Afronta a solidão com valentia e grande satisfação de estar só.

O gato é preguiçoso. E entrega-se à preguiça sem culpa. Adora descansar! Se algo desperta o interesse do gato durante um cochilo, ele abre um olho apenas e checa o que se passa à sua volta. Só aí decide se torna a cochilar ou desperta para explorar seu território.

O gato ama sem apego. Porque o gato é do mundo e não admite a posse. O gato ama livre, ama independente. Jamais aceita cobranças; nunca acata ordens. O gato exige ter sua individualidade respeitada. Porque o gato determina seus momentos de ficar sozinho e exige que sejam atendidos. Às vezes, é tão difícil às pessoas entender o apreço alheio por momentos de solidão. É quase um tabu nas relações pós-modernas.

E, quando o gato ama, diria Quintana, ama baixinho, sem gritar seu amor de cima dos telhados. Ama com discrição e maturidade. Ama com inteligência. O gato não assedia, não importuna com pedidos e carências a serem supridos. Quantos relacionamentos humanos são assim?

O gato é da vida e busca obter o máximo dela. É feliz com pouco; qualquer novelo de lã o diverte. O gato não se preocupa com o que os ‘outros’ pensam dele; o gato não tem medo de fazer papel de bobo. Mas o gato é orgulhoso. E, uma vez traído, nunca voltará a confiar.

O gato é vaidoso. Quer sempre estar limpo. Sua pelagem é seu templo. Quando se lava, evita contato com os seres humanos. Se tocado, volta a se limpar. A higiene, para o gato, é um ritual sagrado.

E o gato é teimoso. Tente convencer o gato a tomar banho ou remédio, a cortar as unhas ou simplesmente a sair de onde ele quer ficar. O gato volta. Quantas vezes precisar. Se não volta, é porque a vontade passou. O gato nunca se curva aos seres humanos. Não se submete porque não sente a necessidade doentia de agradar o tempo inteiro. O gato é autêntico e não ama se anulando. Já os seres humanos...

Ter um gato em casa é entender o amor sem posse. Amar um gato é amar incondicionalmente, porque nem sempre o gato vai estar disposto a demonstrar amor. Porque o gato não veio ao mundo para satisfazer as obrigações doentias do amor possessivo – que é tudo, menos amor.


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Dois gatos me tiveram nessa vida:

Lisa, a gatinha vira-latas, nascida na hípica, que me escolheu para ela, entrando, ainda filhotinha, no meu carro e na minha vida. Na foto, já nos últimos dias de vida, hipotérmica e impossibilitada de andar, por conta de um tumor imenso na coluna. Só queria saber de ficar embaixo do meu edredom ou no colo, na tentativa de compensar a hipotermia - ela, independente e dona de si, que nunca fora de colo.  Foi uma guerreira! Lutou até o final. Morreu na mesa de cirurgia, pelas mãos da veterinária mais humana que eu conheci em toda minha vida, que nos propôs levá-la para a mesa de cirurgia, na tentativa de retirar o tumor (essa mesma veterinária salvou meu cavalo  - com homeopatia - de uma cegueira à qual outros veterinários já o tinham condenado). O que  me comoveu foi a sinceridade e sensibilidade da Dra Serena, quando me disse: “Lê, o que estou fazendo pela Lisa, é uma forma humana de sacrificá-la. Não estou abrindo mão da tentativa de salvá-la, mas esteja consciente de que as chances são mínimas”. E o coraçãozinho dela não aguentou. Acompanhou-me por 14 anos e me deixou em 2006.


Gaia, minha grande companheira, durante 15 anos, que morreu, em casa, justo no dia do meu aniversário do ano passado, de insuficiência renal. Foi uma guerreirinha também, porque, quando  filhote, sofreu uma queda da janela do quarto andar. Passou por várias cirurgias, muitos dias de internação e grande parte da vida com pinos, fios de aço e todas as demais sequelas do acidente, sem nunca perder a alegria de viver.

1 comentários:

Kioshi disse...

Amava essas duas (a Lisa um pouco mais, rs), pena que depois minha dermatite piorou e eu não podia mais ficar agarrado com elas.