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sábado, 26 de junho de 2010

Como você não seria?

Seguindo o raciocínio do post de ontem, escrevo agora um texto sobre como eu NÃO SERIA se eu não fosse tudo que não sou, não gosto, não quero, não tenho, não uso e não sei.

Acredito que eu não seria mais ou menos assim:
 Não sou outra. Tampouco sou eu mesma o tempo inteiro. Certamente não sou quem eu era há alguns anos. Pra ser sincera, até há alguns meses. Não sou rascunho, tampouco sou obra concluída. Não sou bússola, âncora ou cais. Não sou fortaleza indestrutível, certeza absoluta ou fibra irrompível. Não sou matéria secundária, antecâmara ou obrigação acessória. Não sou pouco, pela metade ou só um pedaço. De jeito nenhum sou incompletude. Não sou casulo, ilha ou concha. Não sou mágoa, ódio ou rancor. Tampouco sou ruminação. Não sou turmas, traumas ou tramas. Não sou preconceito, intolerância ou radicalismo. Não sou censura, tirania ou violência. Não sou intromissão, superficialidade ou descontextualização. Não sou TPM, GPS ou SBT. Não sou funk, axé ou sertanejo. Não sou família grande, milhões de amigos ou casa sempre cheia. Não sou ira, gula ou inveja. Não sou esposa, neta ou filha do pai. Não sou quietude, calmaria, mas tampouco sou caos. Não sou alho, cominho ou pimenta do reino. Tampouco sou muito orégano. Não sou paciência ou espera sem fins. Não sou ciúme, possessividade ou cobrança. Não sou revista Caras, novela global ou tietagem. Tampouco sou muita televisão. Não sou leite puro, café amargo ou vinho branco. Não sou gordura trans, lactose ou açúcar. Não sou abacaxi em calda, batata frita ou carne vermelha. Não sou camiseta de banda, sandália em dia de chuva ou piscina que não dá pé. Não sou enganação, mentira ou traição. Não sou sala de espera, conversa de elevador ou choro reprimido. Não sou colônia - de ocupação ou exploração-, tampouco sou metrópole. Não sou multidão, empurra-empurra ou congestionamento. Não sou mais 20 anos. Não sou omissão, evasão ou pouco caso. Menos ainda sou ausência. Não sou queda de energia, pneu furado ou conexão lenta. Não sou comédia escrachada ou romance aguinha com açúcar. Não sou passividade, submissão ou deglutição de sapos. Não sou separação, adeus ou despedida. Não sou porta de escola, posto de gasolina ou supermercado com filas. Não sou frescura, futilidade ou consumismo. Tampouco sou modismo. Não sou orgulho, hipocrisia ou pequeneza de espírito. Não sou idealismo, perfeição ou autossuficiência. Não sou palavrões ou gírias. Não sou frieza, alienação ou enrolação. Não sou rebeldia sem causa, vulgaridade ou curiosidade alheia. Não sou simpatia o tempo inteiro. Não sou falso moralismo, julgamento ou extremismo. Não sou palco ou holofotes; tampouco sou coxia. Não sou saia justa, meia molhada ou sapato apertado. Não sou velório, entrevista de emprego ou metrô lotado. Não sou afinação ou qualquer instrumento musical. Não sou tempo úmido, céu nublado ou chuva que não para. Não sou telefone, ferro de passar ou panela de pressão. Não sou whisky, refrigerante ou cerveja quente. Não sou música alta, palavras gritadas ou poluição sonora. Não sou avesso, encosto ou veneno. Não sou agenda, rotina ou despertador. Não sou letargia, apatia ou inanição. Não sou 40º C, 8 ou 80, ½ ou 1-7-1. Tampouco sou 100%. Não sou muitíssimas coisas. Há aquilo que não sou, exatamente porque decidi não ser; há, contudo, aquilo que não me foi possível evitar. Há o que não sou, também porque não tive oportunidade de ser; ou, então, porque ainda não chegou o momento de sê-lo. Seguramente, há uma parcela do que não sou, porque não batalhei o suficiente para ser. Não sou a única assim. Faz parte da vida. É certo que não sou, ainda, tudo que eu gostaria de ser. Provavelmente nunca serei. Apesar disso, muito prazer, continuo sendo Letticia. Porque o que eu não sou, o que eu não gosto, o que eu não quero, o que eu não conheço, o que eu não tenho, o que eu não faço e o que eu não uso, tudo isso faz parte de mim.

Ufa! Como é bom ter consciência também do que a gente não é.

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