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quarta-feira, 30 de junho de 2010

A viajante independente.

 Decidi que já era hora de passar pela experiência de viajar sozinha. Não sei se estou fugindo de alguma coisa ou se estou perseguindo outra. Talvez eu esteja fugindo de mim mesma; talvez esteja tentando me encontrar.

Mesmo que muito provisoriamente, deixo para trás, não só a minha cidade e o meu país, mas uma parte da minha vida, composta de inquietações, problemas, incertezas. É o meu momento de libertação, embora parte de mim, eu sei, vá ficar com aquilo que deixo pra trás. Porque a saudade vai existir – já fiquei meses longe de casa e conheço a sensação –, mas estou pronta pra curtir a minha própria companhia e praticar o desapego.



Não vou estar sozinha o tempo todo, porque a ideia dessa viagem começou com o convite de um amigo para me hospedar na casa dele. Vai ser muito bom matar a saudade dessa pessoa tão querida, que se mudou para tão longe! Mas não pretendo ficar 3 semanas em uma só cidade e perder a inebriante oportunidade de ter tempo para mim mesma, sem filho, mãe, vizinho, cachorro, papagaio... Serão dias de me isolar no meio de uma multidão de desconhecidos.

Para quem está acostumado a viajar sozinho, isso tudo pode parecer trivial. Mas para quem nunca foi turista independente (e tem filho pequeno de quem morrer de saudades), é um grande passo. E faz parte de um processo de autoconhecimento pelo qual estou passando.

Quero que essa viagem seja uma overdose de desapego, com momentos de liberdade total e de intensa busca pela minha essência e independência. Quero aprender a conviver com os meus defeitos e descobrir novas qualidades; superar meus limites no que diz respeito a deixar de fazer certas coisas simplesmente porque não tenho com quem compartilhar o momento. É hora de trocar a insegurança pela disposição - e satisfação - de estar sozinha; de perder o medo de mim mesma.

Quero viajar sem acompanhante, sem roteiro certo. Quero perder referências, sair da minha zona de conforto, seguir novos caminhos. Quero fugir da ‘síndrome do overplanning’; quero me desprogramar e me reinventar. Quero encarar o imprevisível de frente, desfrutar da liberdade de ir e vir, sem ter que entrar em consenso com ninguém, além de mim mesma, acerca do próximo destino. Se for pra entrar em conflito, discutir, questionar, que seja só comigo.

Quero ser flanêur por uns dias. Na plenitude!

Fazer essa viagem sozinha foi uma escolha consciente de alguém que precisa de tempo para si própria. Muito provavelmente me perderei pelo caminho (geográfica e metaforicamente falando). Mas, aí, será uma ótima oportunidade de me reencontrar e voltar mais crescida do que antes, tendo aprendido a me virar um pouco mais sozinha. 

Não estou a exigir dessa viagem mais respostas ou descobertas do que ela pode me proporcionar. Estou apenas pronta para desfrutá-la e aceitar o que ela me acrescentará de positivo e negativo.

"Getting lost is not a waste of time".

terça-feira, 29 de junho de 2010

De um anjo.

Tenho vivenciado situações que ainda estão muito além da minha compreensão, mas que têm significado TANTO para mim! Tudo parece, de repente, mesmo que por um breve momento, fazer completo sentido. São ocasiões de profunda catarse.

Situações assim não são, exatamente, novidade na minha vida; experimento-as desde criança. Mas o fato é que, de uns tempos para cá, tenho sido orientada, aconselhada e guiada por uma pessoa que tem um coração fora do comum. Aliás, ela nada tem de comum. E receber essa orientação – por mais que eu tenha consciência de que devo buscar outros tipos de aconselhamento –, tem sido extremamente confortante e esclarecedor.

Quanto à parcela de entendimento que ainda não me foi possível vislumbrar - como me disse, certa vez, essa pessoa -, trata-se de um véu que nos impede de enxergar com absoluta clareza tudo que se mostra. E cabe a nós aceitar os mistérios por trás do véu, sem tentar investigar o que há além, tentando apenas compreender as lições que nos são apresentadas. Sábia amiga essa, que me tem guiado os passos.

Acho que esse véu funciona como uma membrana semipermeável, que permite enxergar somente o que nos é necessário naquele momento. Se mais não há que possa ser visto com clareza, mais não há que precisemos para agora.

Esses simples – ou aparentemente simples – eventos, quando norteados por pessoas mais experientes, têm-me esclarecido muitas coisas e me dado as respostas que eu tanto tenho procurado. E quanto mais eu deixo de QUERER, mais tomo consciência do que PRECISO. E, a partir daí, começo a receber exatamente o que necessito.


Comecei a escrever sobre isso para relatar um episódio ocorrido há poucos dias. Entenda como preferir: metaforicamente ou ao pé da letra. A ideia é transmitir a importância do que aconteceu. E fazer entender que, quando nos abrimos a novas compreensões e ampliamos nossos horizontes, sem preconceitos, acabamos ‘tropeçando’ nas respostas.

Surgiu diante de mim um “anjo” – ou seja lá qual nome você prefira dar a ele –, em um dia daqueles em que nada parece fazer sentido. E com palavras inteligentes – e tão doces –, aquele anjo me envolveu. Senti-me realmente abraçada por aquela mensagem de sabedoria, recheada de conselhos e de ternura. O “anjo” parecia saber exatamente o que eu precisava ouvir naquele momento. E me presenteou com uma verdade iluminadora.

Tendo consciência da energia positiva com a qual essa pessoa me preenche diariamente e da mensagem recebida através do “anjo”, tenho certeza que os efeitos provocados em mim acompanhar-me-ão durante as 3 semanas em que estarei fisicamente distante. Mas levarei comigo todo o bem que isso me causou, porque é quase impossível aquele anjo e essa pessoa saírem dos meus pensamentos.

Não sei quando encontrarei o anjo novamente, mas o prazo de validade dessa verdade iluminadora não vai expirar tão cedo.

Esteja, você também, aberto a novos entendimentos. É profundamente purificador. E faz um bem danado ao coração!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Da elegância.


Elegância. Substantivo melodioso, gostoso de pronunciar. E-le-gân-cia!  Até a palavra é chique! Encho a boca pra falar! Contudo, às vezes, tenho a sensação de que essa virtude anda meio esquecida no fundo de algumas gavetas.

Segundo Aurélio, pai de todos nós: e.le.gân.cia: (lat elegantia) sf 1 Graça e distinção no traje, no porte, nas maneiras. 2 Distinção na linguagem e no estilo.

A elegância de que quero tratar aqui é, antes de tudo, uma atitude. E vai muito além de sobrenome, status, roupas de grife, joias caríssimas, vocabulário rebuscado ou regras exageradas de etiqueta.  Não tem a ver com aparência, grau de instrução, dinheiro ou cultura. Tem a ver com a gentileza nas relações humanas, a maneira delicada de se tratar o outro.

Ser elegante é inserir-se no mundo sem arrogância, sem ar de superioridade. É ser suave no trato com as pessoas.  É saber debater, sem nunca subir o volume de voz; saber calar na hora certa e ouvir com humildade.

Ser elegante é jamais ser exagerado. Porque elegância é discrição. Assim, elegante é quem fala baixo, quem não ri alto demais, quem não usa decotes exorbitantes ou saias curtíssimas. Elegante é quem não faz perguntas inconvenientes ou comentários indiscretos, quem não bisbilhota a vida alheia, quem não quer saber demais. Elegante é quem dá ‘bom dia’ ao funcionário do prédio, à pessoa desconhecida no elevador. Elegante é quem não mente, quem honra as promessas que faz, quem demonstra gratidão. Elegante é quem não responde a uma agressão com outra agressão. Elegante é quem não fura filas, quem não joga lixo no chão, quem não buzina à toa no trânsito. Elegante é quem não xinga, quem não julga antes de conhecer. Elegante é não ser fútil.

Portanto, elegância não se reconhece por aquilo que a pessoa tem, mas pela forma como ela se comporta. Já dizia Machado: “há pessoas elegantes e há pessoas enfeitadas”.

Ser elegante é não invadir o espaço dos outros, não constranger quem está ao nosso redor; é fazer com que todos se sintam à vontade na nossa presença. Ser elegante é ser low profile, é elogiar mais que criticar, é não fazer fofocas, é saber consolar. Ser elegante é não querer aparecer, mas saber apreciar, com verdade, quando alguém reconhece nosso esforço, realização ou conquista.

Elegantes mesmo são aquelas pessoas que, naturalmente, atraem olhares, que se destacam, mesmo sem querer. Não tanto pela beleza física, mas pela grandeza de caráter, simpatia, gentileza, educação, nobreza de espírito e, principalmente, discrição. Porque ser elegante é saber ser reservado. "Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir." (Paul Valéry)

Isso não significa que ser elegante é abrir mão da parte estética, psíquica, cultural ou comportamental. Ser elegante é ser integral, abrangendo todos os aspectos da vida.

Ser elegante, no fim das contas, é uma questão existencial, de como você entende que se deve inserir no mundo. Não é moeda de troca, é uma escolha pessoal.

E nunca sai de moda.

Tenho a sorte de conviver com algumas pessoas elegantíssimas. Aprendo com elas diariamente, observando e colocando em uso. Porque elegância só se aprende, assim, praticando. E se faz perceber em gestos, atos, palavras, posturas e escolhas.

Que sorte a minha poder conviver com a elegância que emana de algumas pessoas e ser cingida por ela!

domingo, 27 de junho de 2010

O gato é que sabe viver.

O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. (...) O gato é um médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber!” (Artur da Távola)
...
O gato é que saber viver. E demonstra, em cada gesto, tal sabedoria. Invejo muitos aspectos do estilo de vida do gato e tenho muito que aprender com ele. Conviver com o gato é uma verdadeira lição de vida.

O gato é livre e preza essa liberdade. Ai de quem tentar privá-lo dessa condição! O gato veio ao mundo para ser assim. E se aceita viver com seres humanos, é em interesse próprio e em regime de comunhão total de bens: o gato passa, também, a ser dono da casa; faz dela seu território sagrado.

O gato é independente. Pede carinhos, mas retribui se sentir vontade. E se for negado carinho ao gato, ele sequer liga. Porque o gato é senhor de si. Não se abala com pouco. O gato é bem resolvido e não guarda carências. O gato, definitivamente, não é escravo do afeto.  As pessoas deveriam aprender com o gato e seriam mais felizes em seus relacionamentos.

Além disso, o gato não é dado a negociações. Ele decide quando, como e onde. Os seres humanos que aceitem, se quiserem. Não querendo, o gato não esquenta a cabeça, porque é autossuficiente; ele pula, corre, brinca, rola, deita e dorme. Porque é sábio, o gato, e conhece os benefícios de uma boa dose de sono diária. E dorme com entrega total. Não perde o sono com ansiedade e preocupações.

O gato é intenso! Vive na plenitude. Brinca como uma criança despreocupada em um parquinho de diversões. Tem andar elegante e preciso – como os movimentos de uma experiente bailarina. Tem uma autoconsciência corporal que idolatra e resguarda. Tem personalidade caçadora e um ar meio blasé. O gato faz da vida o que quer; é curioso e aventureiro.

Tem olhos intimidantes e misteriosos. O gato sustenta aquele olhar vago, distante, quase ausente, absorto em seus próprios pensamentos. Tente decifrar o que vai no interior do gato nesse momento. Ele vai achar graça! Quem de nós consegue um período de introspecção, sem ser importunado por perguntas do tipo: “o que você está pensando?”; “está tudo bem?”, “por que você ficou tão quieto de repente?”.

O gato gosta do silêncio; não mia à toa. É meditativo e venera o isolamento. Afronta a solidão com valentia e grande satisfação de estar só.

O gato é preguiçoso. E entrega-se à preguiça sem culpa. Adora descansar! Se algo desperta o interesse do gato durante um cochilo, ele abre um olho apenas e checa o que se passa à sua volta. Só aí decide se torna a cochilar ou desperta para explorar seu território.

O gato ama sem apego. Porque o gato é do mundo e não admite a posse. O gato ama livre, ama independente. Jamais aceita cobranças; nunca acata ordens. O gato exige ter sua individualidade respeitada. Porque o gato determina seus momentos de ficar sozinho e exige que sejam atendidos. Às vezes, é tão difícil às pessoas entender o apreço alheio por momentos de solidão. É quase um tabu nas relações pós-modernas.

E, quando o gato ama, diria Quintana, ama baixinho, sem gritar seu amor de cima dos telhados. Ama com discrição e maturidade. Ama com inteligência. O gato não assedia, não importuna com pedidos e carências a serem supridos. Quantos relacionamentos humanos são assim?

O gato é da vida e busca obter o máximo dela. É feliz com pouco; qualquer novelo de lã o diverte. O gato não se preocupa com o que os ‘outros’ pensam dele; o gato não tem medo de fazer papel de bobo. Mas o gato é orgulhoso. E, uma vez traído, nunca voltará a confiar.

O gato é vaidoso. Quer sempre estar limpo. Sua pelagem é seu templo. Quando se lava, evita contato com os seres humanos. Se tocado, volta a se limpar. A higiene, para o gato, é um ritual sagrado.

E o gato é teimoso. Tente convencer o gato a tomar banho ou remédio, a cortar as unhas ou simplesmente a sair de onde ele quer ficar. O gato volta. Quantas vezes precisar. Se não volta, é porque a vontade passou. O gato nunca se curva aos seres humanos. Não se submete porque não sente a necessidade doentia de agradar o tempo inteiro. O gato é autêntico e não ama se anulando. Já os seres humanos...

Ter um gato em casa é entender o amor sem posse. Amar um gato é amar incondicionalmente, porque nem sempre o gato vai estar disposto a demonstrar amor. Porque o gato não veio ao mundo para satisfazer as obrigações doentias do amor possessivo – que é tudo, menos amor.


...

Dois gatos me tiveram nessa vida:

Lisa, a gatinha vira-latas, nascida na hípica, que me escolheu para ela, entrando, ainda filhotinha, no meu carro e na minha vida. Na foto, já nos últimos dias de vida, hipotérmica e impossibilitada de andar, por conta de um tumor imenso na coluna. Só queria saber de ficar embaixo do meu edredom ou no colo, na tentativa de compensar a hipotermia - ela, independente e dona de si, que nunca fora de colo.  Foi uma guerreira! Lutou até o final. Morreu na mesa de cirurgia, pelas mãos da veterinária mais humana que eu conheci em toda minha vida, que nos propôs levá-la para a mesa de cirurgia, na tentativa de retirar o tumor (essa mesma veterinária salvou meu cavalo  - com homeopatia - de uma cegueira à qual outros veterinários já o tinham condenado). O que  me comoveu foi a sinceridade e sensibilidade da Dra Serena, quando me disse: “Lê, o que estou fazendo pela Lisa, é uma forma humana de sacrificá-la. Não estou abrindo mão da tentativa de salvá-la, mas esteja consciente de que as chances são mínimas”. E o coraçãozinho dela não aguentou. Acompanhou-me por 14 anos e me deixou em 2006.


Gaia, minha grande companheira, durante 15 anos, que morreu, em casa, justo no dia do meu aniversário do ano passado, de insuficiência renal. Foi uma guerreirinha também, porque, quando  filhote, sofreu uma queda da janela do quarto andar. Passou por várias cirurgias, muitos dias de internação e grande parte da vida com pinos, fios de aço e todas as demais sequelas do acidente, sem nunca perder a alegria de viver.

sábado, 26 de junho de 2010

Como você não seria?

Seguindo o raciocínio do post de ontem, escrevo agora um texto sobre como eu NÃO SERIA se eu não fosse tudo que não sou, não gosto, não quero, não tenho, não uso e não sei.

Acredito que eu não seria mais ou menos assim:
 Não sou outra. Tampouco sou eu mesma o tempo inteiro. Certamente não sou quem eu era há alguns anos. Pra ser sincera, até há alguns meses. Não sou rascunho, tampouco sou obra concluída. Não sou bússola, âncora ou cais. Não sou fortaleza indestrutível, certeza absoluta ou fibra irrompível. Não sou matéria secundária, antecâmara ou obrigação acessória. Não sou pouco, pela metade ou só um pedaço. De jeito nenhum sou incompletude. Não sou casulo, ilha ou concha. Não sou mágoa, ódio ou rancor. Tampouco sou ruminação. Não sou turmas, traumas ou tramas. Não sou preconceito, intolerância ou radicalismo. Não sou censura, tirania ou violência. Não sou intromissão, superficialidade ou descontextualização. Não sou TPM, GPS ou SBT. Não sou funk, axé ou sertanejo. Não sou família grande, milhões de amigos ou casa sempre cheia. Não sou ira, gula ou inveja. Não sou esposa, neta ou filha do pai. Não sou quietude, calmaria, mas tampouco sou caos. Não sou alho, cominho ou pimenta do reino. Tampouco sou muito orégano. Não sou paciência ou espera sem fins. Não sou ciúme, possessividade ou cobrança. Não sou revista Caras, novela global ou tietagem. Tampouco sou muita televisão. Não sou leite puro, café amargo ou vinho branco. Não sou gordura trans, lactose ou açúcar. Não sou abacaxi em calda, batata frita ou carne vermelha. Não sou camiseta de banda, sandália em dia de chuva ou piscina que não dá pé. Não sou enganação, mentira ou traição. Não sou sala de espera, conversa de elevador ou choro reprimido. Não sou colônia - de ocupação ou exploração-, tampouco sou metrópole. Não sou multidão, empurra-empurra ou congestionamento. Não sou mais 20 anos. Não sou omissão, evasão ou pouco caso. Menos ainda sou ausência. Não sou queda de energia, pneu furado ou conexão lenta. Não sou comédia escrachada ou romance aguinha com açúcar. Não sou passividade, submissão ou deglutição de sapos. Não sou separação, adeus ou despedida. Não sou porta de escola, posto de gasolina ou supermercado com filas. Não sou frescura, futilidade ou consumismo. Tampouco sou modismo. Não sou orgulho, hipocrisia ou pequeneza de espírito. Não sou idealismo, perfeição ou autossuficiência. Não sou palavrões ou gírias. Não sou frieza, alienação ou enrolação. Não sou rebeldia sem causa, vulgaridade ou curiosidade alheia. Não sou simpatia o tempo inteiro. Não sou falso moralismo, julgamento ou extremismo. Não sou palco ou holofotes; tampouco sou coxia. Não sou saia justa, meia molhada ou sapato apertado. Não sou velório, entrevista de emprego ou metrô lotado. Não sou afinação ou qualquer instrumento musical. Não sou tempo úmido, céu nublado ou chuva que não para. Não sou telefone, ferro de passar ou panela de pressão. Não sou whisky, refrigerante ou cerveja quente. Não sou música alta, palavras gritadas ou poluição sonora. Não sou avesso, encosto ou veneno. Não sou agenda, rotina ou despertador. Não sou letargia, apatia ou inanição. Não sou 40º C, 8 ou 80, ½ ou 1-7-1. Tampouco sou 100%. Não sou muitíssimas coisas. Há aquilo que não sou, exatamente porque decidi não ser; há, contudo, aquilo que não me foi possível evitar. Há o que não sou, também porque não tive oportunidade de ser; ou, então, porque ainda não chegou o momento de sê-lo. Seguramente, há uma parcela do que não sou, porque não batalhei o suficiente para ser. Não sou a única assim. Faz parte da vida. É certo que não sou, ainda, tudo que eu gostaria de ser. Provavelmente nunca serei. Apesar disso, muito prazer, continuo sendo Letticia. Porque o que eu não sou, o que eu não gosto, o que eu não quero, o que eu não conheço, o que eu não tenho, o que eu não faço e o que eu não uso, tudo isso faz parte de mim.

Ufa! Como é bom ter consciência também do que a gente não é.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Se puder, sem medo.

Como você seria?

Como você seria se pudesse SER tudo aquilo que você é, faz, gosta, quer, tem, sabe e usa?

Acho que eu seria mais ou menos assim:

Sou de pai e mãe. Sou ‘meia portuguesa, meia calabresa’.  Sou domingo, agosto e dia dos pais. Sou cabelo castanho, coxa grossa e toda coração. Sou Itália, Brasil e Península Ibérica, lá e cá. Sou amor incondicional, amizade inusitada e cinema alternativo. Sou light, integral e sem açúcar. Sou lua cheia, céu estrelado e barulho de mar. Sou inverno, cama queen e cobertor de orelha. Sou Nancy Rosa, Lígia Maria e Anna Carolina, desde pequena. Hoje sou Lucca também. Sou até um pouco Lunna. Sou Lisa e Gaia, Laio e Orpheu na lembrança doída. Na saudade, também sou Djalma. Ih, na saudade sou tanta gente! Sou desassossego, ansiedade e indecisão. Sou humanas, exatas e igualmente das duas. Sou administração, fotografia e ciência social. Sou tato, olfato e audição. Sou matemática, estatística e finanças. Sou HP12C. Sou cappuccino, café e chocolate quente. Sou livros, livros e livros. Sou livros também. Sou pão, queijo e vinho tinto. Sou seca, encorpada e frutada. Sou excitação, intensidade e plenitude. Sou até exagero. Sou nostalgias, desejos e vontades. Sou cumplicidade, dedicação e companheirismo. Sou encruzilhadas, retornos e separações. Sou queijo com goiabada, requeijão com geleia, salada com frutas e iogurte com cereais. Sou Londres, Firenze e Rio de Janeiro. Sou musicais, banco de praça e bombom de cupuaçu. Sou rosto colado, beijo demorado e abraço apertado. Sou chocolate amargo, bolacha Passatempo e torta holandesa. Sou facebook, flickr e weblog. Sou moletom desfigurado, meia grossa e pijama de ursinho. Sou música, prosa e poesia. Sou pão de queijo, brigadeiro de colher e sopa de letrinhas. Sou fondue de queijo e chocolate. Sou delicadeza, gentileza e educação. Sou balança e equilíbrio. Sou dois lados da mesma moeda. Sou palavras cruzadas, estória em quadrinhos e quebra-cabeças. Sou Kopenhagen, Nestlé e Haggen Dazs. Sou vinho quente, paçoca e milho cozido. Sou cavalos, gatos e borboletas. Sou coruja também. Sou mergulho de cabeça, entrega e compromisso. Sou luxúria e vaidade, tenho que confessar. Sou filosofia, sociologia e religião. Sou tiro, hipismo e taekwondo. Sou um monte de defeitos, muita transparência e total aceitação. Sou compreensão, piedade e participação. Sou Nextel, Nikon e PC. Sou Michelangelo, Aurélio, Quino, Montenegro e Bezerra. Sou mel, suco de frutas e água com gás. Sou jeans, cachecol e Contradiction, CK. Sou livraria, supermercado e cafeteria. Sou padaria e estádio de futebol também. Sou arquitetura, pintura e escultura. Sou grãos, sementes e todo tipo de nuts. Sou fogo, noite e sou embaixo do edredom. Sou verdade, sinceridade e cordialidade. Sou flexibilidade, abertura e elasticidade. Sou observação, sensibilidade e captação. Sou troca, tolerância e entendimento. Sou leitura, silêncio e solidão. Sou hematomas inexplicáveis, bolhas nos dois pés e queda de cabelo. Sou asma, rinite e dor na coluna. Sou banho quente, listas, girassóis e à meia luz. Sou viagem, chegada e partida. Sou suficiente inglês, em desenvolvimento espanhol e bom português. Sou sudoku, poker e xadrez. Sou medo, insegurança e confusão. Sou palavra escrita, diálogo e prolixidade. Sou suficiência, independência e ponderação. Sou inteligência, curiosidade e sugestão. Sou laranja, verde e vermelho. Sou perdão fácil, sorriso sincero e, às vezes, arrependimento. Sou grito preso na garganta. Sou detalhes, perfeccionismo e exigência. Sou intuição, tentação e boa intenção. Sou frutas, verduras e legumes. Sou quase comida vegetariana. Sou sopas, massas e comida japonesa. Sou leão, Balzac e anos 80. Sou dengo, colo e companhia. Sou sexo, paixão e amor na mesma medida. Sou profundidade, altura e largura. Sou forma e conteúdo. Sou montanha russa, desfile de escola de samba e banho à luz de velas. Sou madrugada, insônia e sono leve. Sou hoje, amanhã e depois. Sou dentro, fora e em todo lugar. Sou repleta. Sou, acima de tudo, busca constante, procura incansável e autoconhecimento infinito. Muito prazer! Sou Letticia.

...

Gostei muito de escrever esse texto! Com certeza, outro dia, vou escrever como eu NÃO SERIA se eu não fosse tudo aquilo que eu não sou, não tenho, não gosto, não uso, não sei e não quero. :)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A borboleta branca.

O dia em que dei carona a uma borboleta branca.

"I always wonder why butterflies choose to stay in the same place, when they can fly anywhere on the Earth. Then, I ask myself the same question”.

 Na cultura popular japonesa, a borboleta branca é vista como a alma de uma pessoa já falecida. Gostava de pensar que isso é verdade.

...
Estava eu, dia desses, dirigindo de janela aberta, quando parei no semáforo e notei uma linda borboleta branca batendo asas em volta do meu carro. Tão livre e delicadamente quanto só é possível a uma borboleta branca.

Fiquei observando, encantada, a displicência precisa existente nos movimentos daquele inseto.

Beleza, delicadeza, precisão, confiança, mobilidade, liberdade, independência, autonomia... É, eu deveria ter nascido uma borboleta branca.

Quando o semáforo abriu, eis que a pequenina borboleta decidiu compartilhar comigo mais alguns instantes da sua total liberdade de ir e vir. Entrou voando pela janela e pousou graciosamente em um dos meus dedos que seguravam o volante.

Que alegria! Ficamos lá, a borboletinha e eu, vivenciando aquela inesperada epifania. Tão singular e tão embriagante! Senti-me presenteada por aquele animalzinho.

Foi um daqueles pequenos acontecimentos que enchem nosso espírito de felicidade e nos fazem pensar nos milagres da vida. Gostei de acreditar que era a alma de uma pessoa que escolheu estar comigo naquele momento. Quanto privilégio!

A borboletinha me acompanhou, confiante e segura, até o semáforo seguinte, quando parei novamente no vermelho. Ela, então, decidiu que era hora de partir, afinal, as borboletas não foram “inventadas” (como pensaria Brás Cubas) para permanecer. A elas lhes foi sagrado o direito, total e irrestrito, de locomoção.

Mas como alguém que se apega a determinada situação, ela permaneceu ali, rodeando meu carro, despedindo-se apropriadamente de mim. Ou, talvez, permitindo, carinhosamente, que eu desfrutasse por mais alguns segundos do prazer da sua companhia.

O semáforo esverdeou. Era a minha hora de partir. E a linda borboletinha branca, como se não suportasse a dor do adeus, chocou-se contra o meu para-brisa em um ato suicida.

E eu voltei pra casa chorando, sem conseguir encarar aquele pequenino cadáver desfigurado, grudado no vidro do meu carro.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O silêncio.

Meu pai foi uma pessoa que morreu sem compreender a singeleza* do silêncio. Recordo-me de diversas situações em que nós dois estávamos juntos, sozinhos, e ele reclamava da ausência de conversa entre a gente.

Ele interpretava o meu silêncio como antipatia ou desinteresse por ele. Meu pai nunca entendeu – e eu nunca soube explicar – que, se eu ficava em silêncio na presença dele, era por estar tão à vontade, que julgava não ser necessário falar.

Depois de um tempo sendo cobrada por isso, percebi que ele não estava preparado para aceitar o meu silêncio como testemunha da cumplicidade que existia entre nós dois; como algo especial que podíamos compartilhar, sem constrangimento, como pai e filha que éramos.

E foi assim que eu, ainda adolescente, deixei de ser espontânea com o meu pai. Passei a me sentir obrigada a falar o tempo todo sobre algum assunto qualquer. A partir daí, os dias na companhia dele tornaram-se bem menos agradáveis para mim. Imagino que para ele tenha sido o oposto, afinal, eu me adequara à exigência dele de não permitir que o silêncio se manifestasse nas nossas presenças.

E eu acho o silêncio uma manifestação tão verdadeira...

Ainda penso nisso com muita tristeza. Cheguei, algumas vezes, a fingir que estava dormindo para evitar essas situações.

Acredito que o grau mais elevado de cumplicidade que duas pessoas podem experimentar é o silêncio que não incomoda, que não causa constrangimento, e que nada tem a ver com falta de assunto ou com falta de interesse pelo outro. Aquele silêncio que tampouco diz respeito a planos concebidos em segredo e nunca compartilhados. Ao contrário, trata-se de um silêncio que deixa implícito o que as duas pessoas levam na alma.

Eu valorizo muito esse tipo de silêncio, porque somente ele dá espaço para que os espíritos se alcancem, para que as almas se conectem. “(...) assim como o som, que precisa do silêncio para se manifestar (...)”, “(...)tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.”

É um entendimento muito mais sutil e muito mais gracioso. É o tipo de silêncio que somente duas pessoas que ‘são em paz’ – sendo coerente com o meu post do dia 11 de junho – conseguem apreciar. É aquele silêncio gostoso durante um abraço, por exemplo.

É o silêncio que não mente, que não esconde; o silêncio que simplesmente se permite acontecer, sem constrangimentos, sem o compromisso com qualquer verbalização.  É um diálogo que se dá por meio de olhares, sorrisos e gestos. É o silêncio inteligente; o silêncio que se basta.

Hoje, nossas conversas têm lugar somente no meu coração; só o que existe entre mim e meu pai é o silêncio. O silêncio dele...


*Reaprendi essa palavra recentemente e me apeguei a ela.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Socorro! Meu filho cresceu.

Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-á-bá”.

Educar filhos é tarefa complicada! É, antes de tudo, NOS educarmos. Exige calma, humildade, esforço cotidiano e tolerância para chegarmos até a essência deles. E é aí que acabamos por descobrir a nós mesmos; nossas imperfeições e limitações, nossos anseios, nossas projeções.
 
Meu filho tem 7 anos e uma consciência tão grande do que se passa à volta dele que às vezes me assusta e me dá a sensação de que tenho muito mais a aprender com essa ‘pessoinha’ do que ela comigo.
 
Em casa, costumamos brincar que a cegonha cometeu um erro de logística: o Lucca deveria ter sido entregue à minha irmã mais nova. Ele é exatamente como ela quando criança: estabanado, desorganizado, vive trombando nas quinas e aprontando molecagens. É agitado que só ele! Minha mãe constantemente dizia pra filha caçula: “Quando crescer, você também vai ter uma Liginha”. E, todos sabemos, “praga de mãe pega”! Só que o ‘Liginho’ veio pra mim. :)
 
Apesar de atrapalhado, o Lucca parece outra criança no que diz respeito à atenção que dispensa ao que se passa à volta dele; é uma criança muito perceptiva. Parece sempre estar prestando mais atenção no entorno dele do que em si próprio. Não sei até onde isso é salutar, mas é uma característica bastante evidente nele. Não deixa escapar nada; capta todos os detalhes no ar.
 
Também é uma criança extremamente sensível e preocupada com os problemas do mundo, com os menos favorecidos, com os doentes e os idosos. Tem um grande senso de justiça. Não tem dificuldade de dividir nada material, mesmo que isso signifique abrir mão de algo que é importante para ele. É uma criança verdadeiramente humana, sensível e consciente das necessidades alheias.
 
Duas ou três vezes em que o guincho da Porto Seguro nos prestou assistência – eles oferecem aquela merendinha embalada para os assegurados –, o Lucca procurou algum morador de rua para repassar o lanche que recebemos como cortesia. Afinal, “nós temos comida em casa e não vai nos fazer falta, né, mamãe?” Ele também participa com satisfação de campanhas de doação de agasalhos e brinquedos nos supermercados que frequentamos e fica muito chateado quando alguém joga lixo no chão; muitas vezes, ele mesmo recolhe. Aliás, confesso: foi ele que me ensinou a reciclar. 
 
Certa vez, expressou toda sua decepção em relação a mim com o fato de eu não ter respeitado a Hora do Planeta (projeto que convida as pessoas a desligarem as luzes de suas casas por uma hora, a partir das 20h30min, em um dia específico). Foi dormir emburrado nesse dia e decepcionado com a própria mãe.
 
Ele é extremamente carinhoso e tem um coração que não cabe no peito! Tenta, a todo custo, suprir as necessidades afetivas dos que convivem com ele. Quer sempre agradar, à maneira dele. Sente-se responsável por diminuir todas as carências da avó e, às vezes, fica dividido entre estar comigo e estar com ela, porque sabe que ela precisa mais dele do que eu. 
 
Ele adora sentir-se útil.  Muitas vezes, expressa com palavras aquilo que eu mesma estou sentindo e oferece sua companhia, simplesmente para ‘estar lá’ nos momentos em que entende que eu preciso. E, aí, a criança agitada é capaz de passar horas deitada ao meu lado, me fazendo cafuné e perguntando insistentemente se preciso de alguma coisa.
 
No entanto, o que mais me impressiona é o vocabulário rebuscado que ele, desde cedo, apresentou. Ultimamente, mais do que nunca. Ele traz certa poesia no que diz, mesmo que em forma de prosa, que me encanta e orgulha cada vez mais. Ele se expressa de forma madura e surpreendente. Seus comentários são sempre muito bem contextualizados; defende seus pontos de vista com argumentos coerentes e bastante inteligentes. 
 
O Lucca tem apenas sete anos e carrega consigo todo o peso da idade. São tantas as responsabilidades que ele tem de administrar: acordar cedo para ir à escola, fazer lição (um monte!), provas, leituras, aula de natação, aula de esportes, curso de robótica... Além disso, ainda tem que ser um bom filho, um bom neto, um bom sobrinho, um bom amigo, um bom parceiro (ele diz que meu cunhado é parceiro dele). Às vezes, acho que são coisas demais para alguém tão novo.
 
Sinto que o tempo voou nesses últimos sete anos e que a criança que existia em casa deu lugar a um mini-adulto cedo demais.
 
Socorro! Meu filho cresceu. E eu mal percebi.
 
Desculpem se pareço ansiosa. Mas ele, que tem só SETE anos, acabou de me perguntar qual é a raiz quadrada de 9. (!!!)

Comentários recentes do Lucca:

Lucca: Mamãe, qual é a raiz quadrada de 9?
Eu: O que?????
Lucca: Raiz quadrada. No seu tempo de escola não ensinavam?

Lucca: Mamãe, esse poema é tão lindo que encantou meu coração inteiro. Obrigada. Se não fosse por você, eu jamais teria conhecido essa poesia. (Metade, do Oswaldo Montenegro, que ele ouve sem parar.)

Lucca: Mamãe, cheguei para alegrar o seu dia!
Eu: Que coisa ótima, meu amor! Mas o que é essa mancha vermelha no seu olho? Se machucou na escola?
Lucca: Não, é só um pingo de tinta.
Eu: Ah, vocês brincaram com tinta hoje?
Lucca: NÃO! Nós TRABALHAMOS com tinta, mamãe.

Eu: Lucca, não está na hora de ir pra cama?
Lucca: Não, mamãe, ainda estou muito ativo para pegar no sono.

Eu: Lucca, o que você está fazendo embaixo da mesa com essa chave de fenda?
Lucca: Estou tirando os parafusos de um dos pés, porque preciso fazer uma experiência.

Eu: Mas quem será que contou isso pra Fulana?
Minha mãe: Só pode ter sido o Beltrano.
Lucca: Acho difícil, vovó, porque o Beltrano é uma pessoa MUITO reservada.

Eu: Tá um frio na rua, filho!
Lucca: Eu que o diga hoje de manhã!
Eu: Muito frio, é?
Lucca: Frio? Estava gélido e um hálito branco saía da minha boca.

Lucca: Mamãe, antigamente, eu era o único amigo que a Gigi tinha. Hoje, ela é a garota mais popular da escola e já não liga muito pra mim. Sorte dela, azar o meu.

Lucca: Vovó, você sabe o que é tal coisa? (Esqueci qual foi a pergunta)
Minha mãe: Não sei, Lucca, mas a gente pode pesquisar quando chegar em casa.
Lucca: Não precisa, vovó, eu sei o que é. E entendo que você não saiba. A minha escola realmente ensina coisas que os outros colégios não ensinam.

Minha mãe: Lucca, por favor, recolha todos esses brinquedos espalhados pela sala e leve para o seu quarto.
Lucca: ...
Minha mãe: Ainda não recolheu? Por que a demora?
Lucca: Estou juntando tudo para levar de uma vez só. Me diz agora: quem é o inteligente aqui?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sobre a tolerância.

A vida me ensinou uma coisa que procuro adotar com o máximo de rigor possível no meu cotidiano.

Quando algo não é da maneira que eu gostaria que fosse, tento, com todas as minhas forças, respeitar as escolhas dos outros, por mais que isso me cause algum tipo de desconforto. Acredito fielmente que não devemos julgar uma pessoa pelo prazer ou pela dor que as atitudes dela nos causem. E procuro colocar isso em prática na minha vida, com afinco.

Nem sempre é possível, claro, mas, praticando, tem-se tornado cada dia mais natural ser assim e, por isso, tenho-me saído bem nesse aspecto nos últimos tempos, sem precisar gastar muita energia.

Ser tolerante, da forma como coloquei, de jeito nenhum significa que eu não me dê o direito de não gostar de certos comportamentos. Permito-me não concordar com certas coisas, mas procuro entender o outro lado, por mais que me incomode ou que eu não aprove.

Além disso, ser tolerante tampouco significa que eu nunca exponha o meu descontentamento. Acho que podemos, sim, de vez em quando, dizer: “Olha, não gostei, mas estou tentando entender o porquê de você ter feito isso. Vamos conversar a respeito?” É uma forma ‘homeopática’ e tolerante de expressarmos o nosso incômodo ao autor da ação. Acredito que, muitas vezes que deixamos de fazer isso, corremos o risco de despejar em cima do outro todo aquele desagrado acumulado que ficamos alimentando dentro de nós e que se acaba tornando um veneno perigoso.

Enfim...

Por mais compreensiva que eu tenha sido ultimamente, tem, sim, um desapontamento precisando ser noticiado a quem ele diz respeito.  Eu só não sei ainda se devo. Porque, francamente, não sei como a pessoa vai entendê-lo. E eu verdadeiramente me importo com o que ela pensa.

domingo, 20 de junho de 2010

Why?

"O avesso da distância não é a proximidade, é a constância".

Não vi com bons olhos. Até tentei. E achei que tivesse conseguido. Não deu... Deve ter sido a paralisia no momento do inesperado que me fez não atuar da forma como eu gostaria. Ou, então, a excessiva obrigação de propagar naturalidade e compreensão. Mas, o fato é que me surpreendi. Ponto. Surpreendi-me com o que não deveria me surpreender mais. Não teve nenhum, ou quase nenhum, extraordinário conteúdo. Pra ser sincera, mal consegui inserir-me naquele contexto inusitado para improvisar qualquer ponderação. Mas a confusão foi desmedida a seguir! Veio a indignação, uma sensação incômoda de ter sido invadida, de não ter sido poupada ou mesmo res-pei-ta-da. Ou não existem certos limites tácitos que devem ser acatados?

Quem, agora, vai me dizer se aquela coisa foi vazia ou não de significado?  Quem, agora, vai me sanar as desconfianças que restaram? Eu sou bastante transigente em relação às atitudes dos outros e não me aborreço com pouco. Tento perceber as causa alheias. Porém, essas maneiras que não poupam geografia e extrapolam os perímetros do que pode e do que não pode, essas me importunam.

Presença, ausência; silêncio, manifestação. Incoerência

É. Eu juro que não gostei.

sábado, 19 de junho de 2010

Are you really ok?

Você já sentiu vontade de abrir a janela e alforriar um colossal grito aprisionado na garganta? Não falo daquele grito direcionado a alguém em especial; trata-se somente de um grito de desabafo.

Eu sei, o grito é o velho argumento de quem não está com a razão. Contudo, às vezes, parece que arquivamos coisas demais dentro de nós e que precisamos libertá-las de alguma maneira. Concordo que análise, com ajuda de um bom profissional, talvez fosse solução mais racional. Mas não estou vislumbrando muito espaço pra racionalidade hoje. Não experimento isso com frequência, é verdade, mas confesso que essa coisa maluca e desequilibrada dentro de mim reinou a semana toda. E me atropelou! Quando o discurso é um e o sentimento é outro, a cabeça desestabiliza. FATO!

Tem dias em que nos sentimos confusos! Acontece. O problema é quando nos sentimos confusos DEMAIS! E bate aquela sensação de que perdemos - novamente - o controle da própria vida. A nossa parcela de culpa é sempre enorme. Mas, convenhamos, a nossa vida também é afetada por atitudes alheias. E, assim, cabe a cada um de nós manter a solidez, sagrar o livre-arbítrio, e aguentar o ‘tranco’.

Acontece que determinadas semanas parecem abarrotadas de decisões alheias refletindo diretamente naquilo que deveria ser NOSSA jurisdição. E, aí, pronto: em uma atitude errônea, abrimos mão da nossa razão e nos sentimos no direito de assumir posturas que não são legitimamente nossas. E, como caranguejo não gera pássaro, uma escolha feita em tal condição, dificilmente será uma opção adequada.

A partir desse momento, certas coisas parecem desordenadamente pairar no ar; nada mais flui espontaneamente; sentimos-nos extremamente desencorajados. E ainda nos preocupamos com a satisfação que daremos aos outros acerca das delirantes decisões que tomamos. A ânsia por mudanças dá lugar à entediante rotina e, aí, passamos a ter a sensação de que estamos indo a lugar nenhum.  É uma verdadeira bola de neve...

Como se tudo não bastasse, sentimos falta de um ombro amigo; uma saudade, sem piedade (pra quem entendeu, desculpa o trocadilho), instala-se dentro do nosso peito e dá margem para pensamentos nada benéficos tomarem conta da nossa lógica.

É horrível sentir-se assim! Nessas horas, é necessário buscar tranquilidade sei-lá-de-onde para organizar as ideias dentro da cabeça e, “se puder, sem medo”, encarar o que está por vir.

Errar é humano, mas as pessoas à minha volta têm sido humanas demais... e eu também.

“Are you really ok?” I am acting like I am ok. Please, don’t interrupt my performance.

It would be...


It would be SO NICE if something would MAKE SENSE for a change.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Partida de futebol.

"Na verdade uma partida de futebol é mais alguma coisa que bater uma bola, que uma disputa de pontapés. Os espanhóis fizeram de suas touradas espécie de retrato psicológico de um povo. Ligaram-se com tanta alma, com tanto corpo aos espetáculos selvagens que com eles explicam mais a Espanha que com livros e livros de sociólogos. Os que falam de barbarismo em relação à matança de touros são os mesmos que falam de estupidez em relação a uma partida de futebol. E então, geeneralizam: é o momento da falta de espírito admirar-se com o que os homens fazem com os pés. Ironizam os que vão passar duas horas vendo as bicicletas de um Leônidas, as tiradas de um Domingos. Para esta gente tudo isto não passa de uma degradação. No entanto há uma grandeza no futebol que escapa aos requintados.” 
 
(José Lins do Rego)
 

Dialética da separação.

Li, não sei onde, que demonstra maturidade amorosa quem sabe terminar uma relação valendo-se do mínimo de palavras. E acho que concordo com isso (não sei desde quando). "Se o adeus demora, a dor no coração se expande..."

Para duas pessoas que se despedem, a dialética da separação é quase um ritual de autoflagelação do qual não conseguem escapar. O rompimento dá palco para dramas e tragédias, as palavras perdem sua consistência. Passa-se a interrogar o já dito, tenta-se buscar explicações que justifiquem o que o outro decidiu, silenciosamente e em segredo. Pior, começa-se a questionar as próprias determinações. Quando tudo finda, melhor guardar o que não tem mais lugar ao se abreviar a relação.

Rompimentos já são duros por eles só. Quanto mais sucintos, menos doloridos. Quando tudo termina, é sábio não fazer muitas perguntas, como também é sábio não responder a tudo. Na perspectiva de socorrer um relacionamento, palavras e mais palavras podem ser um admirável cerimonial de salvação. Mas, quando a separação já está firmada, quando a quebra do vínculo é evidente, a concisão é uma virtude. Qual o propósito de se debater o que já pereceu? Por que reviver a dor se não há a possibilidade de resgatar o que existiu?

Quando tudo termina, simplesmente cale-se: não pergunte aquilo que você não precisa saber. E, se perguntado, não responda tudo. Já dizia Confúcio: ‘o silêncio é um amigo que nunca trai’.

Acho que cansei de ser prolixa...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Deixar de ser criança.

Criança é quem ainda não viajou e fica feliz imaginando a viagem. (...) Adulto é quem já viajou e fica feliz olhando as fotos da viagem.” (Rubem Alves)

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de ter medo do ‘bicho-papão’ e do ‘lobo mau’ e passa a ter medo da vida; quando troca os lápis de cor e os livros de colorir por uma caneta preta e uma agenda; quando descobre que as nuvens não são de algodão-doce e que brincar de adivinhar o formato delas é para os bobos.

A gente descobre que não é mais criança quando não vê mais graça em contos infantis, mas entra em depressão quando descobre que a própria vida nunca será um conto de fadas; quando deixa de acreditar em Papai Noel e fadas madrinhas e, estranhamente, passa a acreditar que vai encontrar um príncipe encantado e viver feliz para sempre.

A gente descobre que não é mais criança quando aprende a ver as horas e se torna escrava de relógios, agendas e compromissos; quando aprende a ler, mas perde o interesse pelos livros de estórias; quando dá fim aos amigos imaginários e percebe que os verdadeiros já não são tantos – ou não são tão amigos assim.

A gente descobre que não é mais criança quando sair com os pais deixa de ser um programa divertido e passa a ser entediante, que a gente faz por obrigação.

A gente descobre que não é mais criança quando perde a capacidade de fazer amigos cujos nomes nem sabe e passa a ter na agenda do celular – ou na lista do MSN – mais nomes do que é capaz de lembrar.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de ser feliz com pouco e percebe que é necessário cada vez mais para experimentar momentos de alegria; quando cantar desafinado e dançar desengonçado deixa de ser divertido e passa a ser motivo de embaraço.

A gente descobre que não é mais criança quando os problemas deixam de ser de matemática e passam a ser de finanças; quando os passatempos transformam-se em contratempos; quando a brincadeira de ‘pique esconde’ torna-se real e a gente passa a esconder-se, não mais atrás de portas ou cortinas, mas de desculpas esfarrapadas.

A gente descobre que não é mais criança quando dormir com os anjos não conforta mais e a gente passa a necessitar de alguém do lado na cama de casal; quando o medo de ficar sozinha no escuro deixa de ser medo de ficar sem mãe e passa a ser uma ansiedade tirânica de encontrar sua tão almejada ‘cara-metade’.

A gente descobre que não é mais criança quando começa a achar que tomar banho de chuva e saltar poças de água é perda de tempo; quando lamber o dedo indicador lambuzado da cobertura do bolo passa a ser porcaria; quando assoprar a vela de aniversário alheia não tem mais graça. E a da gente, então, “Deus me livre”!

A gente descobre que não é mais criança quando se olhar no espelho já não traz a mesma satisfação de antes e a gente não se acha a pessoa mais bonita do mundo.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de se interessar pelo perfume e pela beleza das flores e passa a contabilizar as primaveras; quando a carência afetiva fica cada vez mais difícil de ser diminuída. Não basta mais um colo de mãe.

A gente descobre que não é mais criança quando perde a capacidade de passar horas se entretendo com algo que dá prazer, sem peso na consciência, e passa a cumprir somente com as obrigações, porque não se tem mais tempo a perder com frivolidades.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de errar nas crases e passa a errar com os que estão à volta; quando deixa de praticar criancices e começa a ser acusada de imaturidade; quando ir pra cama às 22 horas não é mais imposição dos pais, mas um hábito ansiado e quase impossível de ser praticado.

A gente descobre que não é mais criança quando o corpo é de adulto, mas a criança interior ainda chora por colo de mãe.

...

Para finalizar, uma listinha que fiz em uma agenda de 1993, quando tinha 15 anos, e com a qual ainda me identifico, porque, é verdade, eu ainda visto pijama de ursinho e peço colo. :)

Dez 'criancices' que deveríamos preservar:

- pedir colo;
- andar com os pés descalços;
- comer bolo da vovó (sem se preocupar com as calorias);
- ter brilho nos olhos;
- chorar de vez em quando;
- não mentir;
- vestir pijama de ursinho;
- perguntar muito;
- sonhar com os anjos;
- acreditar que aquilo que pedimos pra “papai do céu” pode realmente acontecer.

Her Morning Elegance.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O que você faz da sua vida?


Esse site tem uma proposta interessante. Reúne dados sobre as principais coisas que pessoas do mundo todo querem realizar. Encontra-se de tudo um pouco.

Os números mostram que as cinco maiores aspirações dos que lá postaram são: ‘perder peso’, ‘parar de adiar’, ‘escrever um livro’, ‘se apaixonar’ e ‘ser feliz’. Nada surpreendente para  o Top 5 dos anseios da humanidade. Mas, procurando nas entranhas do site, pode-se descobrir coisas curiosas. E é muito legal inspirar-se pelas ambições alheias, ou, como diz uma amiga: ‘reciclar ideias’.

Entretanto, mais legal ainda é realmente parar por um momento, ou vários, e pensar nas coisas que ansiamos realizar e que são passíveis de se concretizar.

Eu faço lista pra tudo, até pra Papai Noel. ADORO! Mas, claro, não interessa se vamos, de fato, listar as 43 coisas que gostaríamos de realizar; o importante é que estabeleçamos certos objetivos e tracemos um plano realista para alcançá-los. Não façamos dessa lista uma simples ‘wish list’; façamos dela uma verdadeira ‘to do list’. Assim, como apontado no site, da próxima vez que alguém perguntar: ‘o que você faz da vida?’, você pode responder com a maior confiança do mundo: ‘eu faço 43 coisas!’.

Eu sei que junho, apesar de encerrar um semestre, não é exatamente o mês mais habitual de se fazer avaliações do que passou ou de se pensar em novos objetivos. Dezembro, sim, costuma vir acompanhado de balanços e promessas. Mas, todos sabemos, sempre é hora de rever – ou estabelecer – metas e analisar os caminhos que estamos percorrendo para atingi-las.

Confesso que 2009 foi um ano de poucas conquistas palpáveis pra mim. Se eu pensar na lista de coisas que eu imaginava que faria durante o ano passado, talvez fique bastante frustrada. Deixei muita coisa inacabada. Pensei muito, decidi pouco e realizei menos ainda. Foi um ano conturbado, de crise!

Mas toda crise é uma oportunidade! Por isso, é verdade, também, que 2009 desencadeou uma boa quantia de mudança interior e muito crescimento pessoal. 2009 colocou o trem da minha vida de volta aos trilhos. Nesse sentido foi um bom ano. E, 2010, até agora, foi bastante produtivo, em diversos aspectos.  Decisões tomadas, ações postas em prática, muita coisa consolidada, novas perspectivas, horizontes mais amplos.

Em outra ocasião, já há alguns anos, criei uma lista daquilo que eu gostaria de fazer, mas que, muito provavelmente, nunca se concretizaria. Coisas como ‘aprender a digitar sem olhar para o teclado’, ‘dançar tango com o Al Pacino’ – cena do filme Perfume de Mulher –, ‘aprender a tocar violino’, ‘viajar o mundo’ ou ‘participar de uma Olimpíada’. Sem traumas; era uma lista bem fantasiosa. Eu tinha plena consciência disso.

Agora, finalmente, aqui estão as 43 coisas que eu almejo para os próximos anos (na verdade, são só ALGUMAS das coisas que anseio e a ordem em que estão dispostas não denota prioridade de uma sobre qualquer outra, embora ela exista na minha cabeça).  É uma listinha bastante eclética – de trivialidades a grandes eventos  –, contudo, bem mais realista e provável de ser posta em prática. :)

1.    Fazer mestrado
2.    Ganhar fluência em espanhol
3.    Terminar meu curso de fotografia
4.    Aprender a jogar sinuca
5.    Terminar de escrever meu livro
6.    Conhecer o Leste Europeu e os países ibéricos
7.    Fazer RPG para a minha dor na coluna
8.    Passear de gôndola por Veneza
9.    Fazer um tour pela América do Sul e outro pela América Central
10.    Ser mais organizada com as minhas roupas
11.    Trabalhar como fotógrafa
12.    Saltar de paraquedas
13.    Criar o hábito de me alimentar mais vezes durante o dia
14.    Desenferrujar meu inglês
15.    Ser menos ansiosa
16.    Cozinhar mais
17.    Praticar algum tipo de meditação
18.    Passar a usar lentes de contato
19.    Desfazer-me de coisas que são dispensáveis
20.    Ler ao menos 100 clássicos da literatura mundial (sem contar os que eu já li)
21.    Ter menos medo de errar
22.    Tomar menos remédios
23.    Abrir meu próprio negócio
24.    Morar sozinha (com meu filho, claro)
25.    Voltar ao convívio com os cavalos
26.    Voltar a praticar exercícios diários
27.    Ler mais sobre Filosofia, Sociologia e Religião
28.    Recuperar algumas amizades
29.    Passar mais tempo sozinha
30.    Passar mais tempo com familiares e amigos
31.    Ser menos exigente com o meu filho e saber respeitar as limitações dele (todos temos)
32.    Ser mais compreensiva com a minha mãe
33.    Deixar uma mensagem ou cadeado no balcão da Giulietta, em Verona
34.    Frequentar sebos, como opção às livrarias e, assim, gastar menos com livros
35.    Fazer alguém muito feliz
36.    Terminar de ler A Ilíada e A Odisséia
37.    Colocar silicone
38.    Começar algum trabalho voluntário
39.    Viver fora do Brasil por um tempo
40.    Retirar os pinos e as placas de titânio do meu rosto
41.    Fazer um curso de Vinhos
42.    Ser mais simples
43.    Ler Dom Quixote em espanhol

E aí, quais são as 43 coisas que você faz da SUA vida?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Hábitos criativos.

“É necessário ter a capacidade de usar a solidão de forma construtiva para se abrir à criatividade. É imprescindível que se perca o medo de estar sozinho”.

Ontem, como forma de desabafo – e, talvez, na esperança de que alguém viesse em meu socorro com alguma ideia fantástica –, declarei publicamente que estava sem inspiração e criatividade para as fotos que eu teria que produzir nas horas seguintes, durante a aula do meu curso de fotografia.

Meu professor, em resposta, foi bem enfático ao dizer que “bloqueio criativo é para os fracos”, mas isso não vem ao caso.

O que VEM ao caso é que, coincidentemente – ou não –, hoje, chegou-me às mãos um artigo sobre justamente ela, a que eu achava que me faltava ontem: a criatividade.

O autor de tal artigo investigou alguns dos principais hábitos que pessoas criativas de diversas áreas consideram importantes para fazer fluir a tão almejada criatividade.

A conclusão, ao final do texto, acerca dos dois principais “hábitos criativos” pode parecer contraditória, mas realmente faz sentido. O segredo é buscar um equilíbrio entre os dois extremos (como é com quase tudo na vida).  

Por meio de entrevistas e pesquisas, o autor constatou que grande parte dos criativos tem algo em comum: a necessidade de ficar sozinho. É no silêncio da solidão que se encontra o ambiente necessário para ouvir os próprios pensamentos, refletir, e, assim, deixar florescer a criatividade.

Somente quando estamos sozinhos somos capazes de entrar em contato com o nosso ‘eu interior’ e descobrir conceitos como verdade, beleza, sentimento, emoção (coisas que buscamos incorporar às nossas produções – sejam elas quais forem – e que dão aquele toque pessoal ao que fazemos. Ou, como diria meu professor: ‘É o fotógrafo por trás da foto’).

Assim, ficar sozinho é o principal ‘hábito criativo’ cultivado por aqueles que buscam a criatividade.

Paradoxalmente, outro hábito que os criativos compartilham naquilo que diz respeito a alimentar a criatividade é ‘participação’. Isso engloba estar conectado e em contato com outras pessoas, ser inspirado pelos outros, buscar referências, ampliar o repertório, colaborar com os demais.

É possível ter solidão e participação? É! Mas exige saber definir com inteligência: ‘agora é hora de ficar sozinho’; ‘ agora é hora de participar’.

Precisamos de inspiração do mundo exterior, mas a criação vem do nosso interior.

“A criatividade é essencialmente uma arte solitária. E um esforço ainda mais solitário. Para alguns, é uma benção. Para outros, uma maldição. É, na verdade, a habilidade de entrar em contato com o ‘eu interior’ e arrancá-lo de dentro de sua própria alma”.

Quer ser mais criativo? Arrume tempo para você mesmo. E pratique. Pratique muito!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A love letter.

[Contrariando por completo o ponto de vista que defendi no meu post de ontem, publico hoje esta carta]


Oi, Lelê, minha loirinha bonita de cabelos cacheados.

Resolvi escrever-te esta carta porque notei que alguns assuntos ficaram pendentes entre mim e ti. E, nós sabemos, tu e eu detestamos pendências e ressentimentos.  Ponhamos, então, os pingos nos ii!

Por ter mais idade que ti, julgo-me capaz de dar-te certos conselhos, para que possas evitar alguns dos erros em que eu incorri durante esses anos todos. Quem sabe, assim, compensar-te-ei pelas falhas que cometi em relação a ti. Procura perdoar-me, por favor. Assim, talvez, eu consiga te desculpar por algumas coisinhas pelas quais ainda te condeno.

Primeiro, gostaria muito de pedir-te: deixa, de vez por todas, essa ansiedade de lado. Ela não te ajudará em nada. Ao contrário, fará com que percas o foco no teu presente e te lances desesperadamente ao futuro (lugar que pertence mais a mim que a ti, convenhamos), esquecendo-te, assim, de dar a atenção que teu momento merece. Acredita: sempre haverá coisas das quais não terás controle. Faça tua parte, o melhor que puderes, e deixa o resto nas mãos de Deus. Caso contrário, tua saúde - física e mental - cobrar-te-á caro por isso.

No entanto, muito menos te apegues ao passado, querida, carregando o peso dele em teus ombros magrinhos. Ele já passou... tanto para ti, quanto para mim. Aliás, tem sido um alívio me livrar dos fantasmas do nosso passado, menina.

Também não sejas tão exigente contigo mesma – só nós sabemos o quanto isso é difícil para ti - e nem com os que estão à tua volta. Eles são, muitas vezes, os teus anjos da guarda, enviados por Deus, para guiar teus caminhos e te orientar. Confia neles!

Tampouco te preocupes em agradar o tempo inteiro. Seja doce, gentil, carinhosa – como bem sei que és -, mas não abra mão da tua essência; ela é teu alicerce e será até o fim de tua vida. Procura sempre melhorar, mas o faça por ti, nunca pelos outros. Quem gosta de verdade de ti, amar-te-á incondicionalmente, mesmo que venhas a falhar – o que, de fato, acontecerá, posso garantir. Muitas vezes.

Por favor, para de tomar decisões impensadas. Quando surgirem obstáculos ou bifurcações em teu caminho, não hesites em parar, analisar a situação com visão sistêmica, pensar muito e, somente depois de julgar já a conhecer e a ter compreendido, aí sim, executa a ação necessária. Se não prestares muita atenção nesse conselho, sofrerás demais com escolhas indevidas; bem sei disso.

Tenta ser senhorinha das tuas emoções e dos teus desejos; não deixes que eles te controlem. Saiba que nem sempre isso será fácil, ou mesmo possível, mas começa a treinar desde já. Precisarás muito dessa habilidade daqui pra frente.

Aprenda, também, o quanto antes, que não é possível exigir o amor de ninguém. Por isso, dá boas razões para que gostem de ti e deixa que a vida se encarregue do resto. Procura não julgar o caráter das pessoas pelo prazer ou pela dor que as atitudes delas te causam. Tenta compreendê-las, sempre que possível.

Tua travessia por esta vida não será sempre por mares tranquilos. Mas, cada vez que sofreres golpes do infortúnio, tornar-te-ás mais forte e mais confiante de alcançar teus objetivos.

Aprenda com os outros; seja humilde e inteligente a esse ponto. Dá-te o devido valor, acredita em teu potencial; sofra menos, saia mais, aproveita com mais intensidade... e nunca, nem por um segundo, deixes de te apaixonar pelas coisas simples e belas da vida, porque é a paixão que te levará a experimentar as coisas mais deliciosas da tua existência! E, ah, cometa aqueles erros que são inevitáveis o mais cedo possível!!!

Quando chegares à minha idade, entenderás o que quero dizer. Sendo assim, planta apenas boas sementes e, com certeza, colherás ótimos frutos!

Te espero. Teu lugar no meu futuro está reservado. Não te esqueças de que eu te amo!

(Carta escrita pela Letticia que eu sou em 2010 para a Letticia que eu fui em 1990) – se fosse possível.


Léo e Bia


"Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Léo e Bia souberam amar..."

domingo, 13 de junho de 2010

Se há alguns anos eu soubesse...

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, teria, desde mais cedo, mantido uma alimentação equilibrada; teria, antes, cultivado hábitos mais saudáveis, feito mais esportes; teria procurado me conhecer mais e me criticar menos; teria feito terapia, praticado com mais afinco algum tipo de meditação e com menos assiduidade todo tipo de automedicação.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, não teria sido tão rigorosa comigo ou com os outros, teria sido mais tolerante, menos crítica e muito menos perfeccionista; não teria sentido tanto medo; teria agido mais e reagido menos.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, teria perdido menos tempo com problemas pouco importantes; teria me esforçado mais para preservar certas amizades, teria investido mais tempo em pessoas que me faziam bem e em projetos passíveis de ser colocados em prática; teria perdoado com mais frequência – aos outros e a mim mesma –, teria me desculpado mais pelos meus erros e me vangloriado menos pelos meus acertos.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, teria lido muito mais livros, assistido a muito mais filmes, ido a muito mais shows, visitado muito mais lugares, ido muito mais vezes ao teatro.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, teria dificultado menos, me sabotado menos, sonhado menos e realizado mais; eu, certamente, teria cobrado menos – de mim e dos outros.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, teria estabelecido melhor as minhas prioridades na vida; teria rido com muito mais vigor e chorado com muito mais sabedoria; teria tido menos pressa e mais foco nos meus objetivos.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei, eu, seguramente, não teria cometido muitos dos erros que cometi.

Mas, aí, eu não seria eu.

E sempre é tempo de aprender e de colocar em prática aquilo que se sabe.

Se há alguns anos eu soubesse determinadas coisas que hoje eu sei... não importa. Ainda bem que eu não sabia!

sábado, 12 de junho de 2010

Café improvável.


Ela está completamente sozinha, absorta em uma leitura de orelha de livro, e, ao mesmo tempo, imersa em seus pensamentos. Está sozinha porque é sua melhor opção neste momento.
 
O ambiente álgido, cafeteria em estilo europeu, prateleiras repletas de livros, chocolate quente para aquecer o espírito. 
 
Ela começa a folhear o livro, quando percebe a presença dele: um homem de rosto sereno, porte intelectual, andar elegante, olhar inteligente por trás de lentes finas.
 
Exatamente ao mesmo tempo, constatam que ambos têm nas mãos o mesmo livro: “Contos Filosóficos do Mundo Inteiro”, de Jean-Claude Carrière.
 
Sorriem da irônica coincidência. Dois estranhos vivenciam uma sublime sintonia.
 
Ele, então, pergunta se pode sentar-se com ela. Café forte, opiniões convictas, palavras bem pronunciadas, tempo que voa imperceptível.
 
Ele sabe que atrai e flerta sem grandes reservas; ela deixa-se levar pela improbabilidade do momento.
 
Olhares se cruzam. Opiniões e impressões são trocadas. 

Eram apenas palavras...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A diferença entre 'ser' e 'estar'.


Você consegue entender a diferença entre ‘ser’ e ‘estar’?

Em todas as línguas germânicas modernas não há distinção entre ‘ser’ e ‘ estar’; porém, em português, esses são verbos completamente distintos – embora nem sempre pareçam, e seja necessária certa ampliação da inteligência emocional e espiritual para que se perceba essa sutil diferença em determinadas situações.

‘Ser’ envolve uma situação definitiva; ‘estar’ trata de algo provisório, que pode ‘ser’ agora e daqui meia hora ‘não ser mais’.

Pense na diferença entre ‘ser feliz’ e ‘estar feliz’. Fica-se feliz com uma boa notícia, uma surpresa inesperada, um reencontro com velhos amigos, um objetivo alcançado, uma mensagem carinhosa de quem se gosta, uma promoção no emprego, um abraço apertado, a aquisição de um bem. Mas, para ‘ser’ feliz é preciso dedicação, preparo, coragem e força de vontade para entender que a felicidade está nas coisas simples, e que nem sempre estaremos livres de momentos de solidão, tristeza, dor, raiva, medo, incompreensão. É preciso ‘ser’ feliz, sem que exista a exigência de se ‘estar’ feliz o tempo inteiro.

Portanto, mais que entender a distinção entre ‘ser’ e ‘estar’, é preciso compreender o quanto essas palavras podem-se completar.  Em algumas ocasiões, será necessário conjugar muitas e muitas vezes o verbo ‘estar’ para se alcançar o verbo ‘ser’. É preciso disposição para se alcançar um verdadeiro estágio de felicidade e não um simples - e efêmero - estado de felicidade.

Muitas vezes, nos apegamos tanto àquele momento específico pelo qual estamos passando, por gostarmos muito dele, que passamos a desejar, de todo coração, que ele dure para sempre. Isso pode ser um clássico exemplo de confundir o ‘ser’ com o ‘estar’ e, assim, nunca estaremos preparados para a efemeridade do ‘estar’.

Pode-se, por exemplo, ‘estar em paz’; mas, muito melhor, é ‘ser em paz’. Pode-se ‘estar completo’, mas muito mais importante é ‘ser completo’. E há, também, a situação inversa: pode-se ‘ser descontrolado’, mas, talvez, aquele seja apenas um ‘estar descontrolado’ (uma atitude ou reação negativa pode tratar-se apenas de um estado passageiro; pode ser apenas como uma pessoa ‘está’ naquele momento; não como ela verdadeiramente ‘é’).

É necessária uma boa dose de tranquilidade e serenidade para entender tais diferenças, que se podem tornar mais ou menos perceptíveis, dependendo da situação a que dizem respeito.  
 
“Revelar o suficiente sobre coisas importantes (porque as pessoas à volta estão curiosas) é uma tarefa tão delicada quanto não revelar demais sobre coisas importantes (porque as pessoas à volta são curiosas)”.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Havia nela uma certeza!

Havia nela uma certeza de que aprendera a estar sozinha; de que aprendera a suprir-se de suas carências e de vivenciar o amor como uma experiência pessoal. Era esse justamente o encanto do processo: a certeza de que ela adquirira a coragem necessária para voar com as próprias asas. E, ela sabia, não era coragem se não houvesse medo envolvido.

Havia nela uma certeza de que o amor estava dentro dela e de que cada relacionamento vivido havia lhe ensinado um pouco mais a respeito desse amor interior.

Havia nela uma certeza de que, durante o caminho que percorrera, conseguira-se livrar de falsas necessidades e controlar certas exigências, expectativas e fantasias. E que, por mais cansativo e desanimador, até, que às vezes lhe parecera, havia nela uma certeza de que rompera com os excessos do passado, ficando apenas com o que era positivo, que agregava ao acervo de lembranças saudáveis.

Havia nela uma certeza de que amava a si mesma, com todas as suas qualidades e seus defeitos, e de que estava disposta e pronta para retomar o processo de aprendizagem e de autoconhecimento, ficando apenas quietinha e reconhecendo e aceitando, dentro dela, a completude de estar só.

Havia nela, mais do que nunca, uma certeza de que o vento que lhe havia tirado coisas durante o caminho, era o mesmíssimo que lhe traria outras tantas de que ela aprenderia a gostar.

Hoje, há nela a certeza de que é a mesma pessoa, mas um pouquinho diferente; porque pôde sentir que em seu rosto havia uma lágrima furtiva, escorrida da dor de uma saudade dele; da estranha sensação de incerteza e, ao mesmo tempo, de uma infinita gratidão.

Há nela todas essas certezas; justo nela, que nunca fora dada a certezas.