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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Deixar de ser criança.

Criança é quem ainda não viajou e fica feliz imaginando a viagem. (...) Adulto é quem já viajou e fica feliz olhando as fotos da viagem.” (Rubem Alves)

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de ter medo do ‘bicho-papão’ e do ‘lobo mau’ e passa a ter medo da vida; quando troca os lápis de cor e os livros de colorir por uma caneta preta e uma agenda; quando descobre que as nuvens não são de algodão-doce e que brincar de adivinhar o formato delas é para os bobos.

A gente descobre que não é mais criança quando não vê mais graça em contos infantis, mas entra em depressão quando descobre que a própria vida nunca será um conto de fadas; quando deixa de acreditar em Papai Noel e fadas madrinhas e, estranhamente, passa a acreditar que vai encontrar um príncipe encantado e viver feliz para sempre.

A gente descobre que não é mais criança quando aprende a ver as horas e se torna escrava de relógios, agendas e compromissos; quando aprende a ler, mas perde o interesse pelos livros de estórias; quando dá fim aos amigos imaginários e percebe que os verdadeiros já não são tantos – ou não são tão amigos assim.

A gente descobre que não é mais criança quando sair com os pais deixa de ser um programa divertido e passa a ser entediante, que a gente faz por obrigação.

A gente descobre que não é mais criança quando perde a capacidade de fazer amigos cujos nomes nem sabe e passa a ter na agenda do celular – ou na lista do MSN – mais nomes do que é capaz de lembrar.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de ser feliz com pouco e percebe que é necessário cada vez mais para experimentar momentos de alegria; quando cantar desafinado e dançar desengonçado deixa de ser divertido e passa a ser motivo de embaraço.

A gente descobre que não é mais criança quando os problemas deixam de ser de matemática e passam a ser de finanças; quando os passatempos transformam-se em contratempos; quando a brincadeira de ‘pique esconde’ torna-se real e a gente passa a esconder-se, não mais atrás de portas ou cortinas, mas de desculpas esfarrapadas.

A gente descobre que não é mais criança quando dormir com os anjos não conforta mais e a gente passa a necessitar de alguém do lado na cama de casal; quando o medo de ficar sozinha no escuro deixa de ser medo de ficar sem mãe e passa a ser uma ansiedade tirânica de encontrar sua tão almejada ‘cara-metade’.

A gente descobre que não é mais criança quando começa a achar que tomar banho de chuva e saltar poças de água é perda de tempo; quando lamber o dedo indicador lambuzado da cobertura do bolo passa a ser porcaria; quando assoprar a vela de aniversário alheia não tem mais graça. E a da gente, então, “Deus me livre”!

A gente descobre que não é mais criança quando se olhar no espelho já não traz a mesma satisfação de antes e a gente não se acha a pessoa mais bonita do mundo.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de se interessar pelo perfume e pela beleza das flores e passa a contabilizar as primaveras; quando a carência afetiva fica cada vez mais difícil de ser diminuída. Não basta mais um colo de mãe.

A gente descobre que não é mais criança quando perde a capacidade de passar horas se entretendo com algo que dá prazer, sem peso na consciência, e passa a cumprir somente com as obrigações, porque não se tem mais tempo a perder com frivolidades.

A gente descobre que não é mais criança quando deixa de errar nas crases e passa a errar com os que estão à volta; quando deixa de praticar criancices e começa a ser acusada de imaturidade; quando ir pra cama às 22 horas não é mais imposição dos pais, mas um hábito ansiado e quase impossível de ser praticado.

A gente descobre que não é mais criança quando o corpo é de adulto, mas a criança interior ainda chora por colo de mãe.

...

Para finalizar, uma listinha que fiz em uma agenda de 1993, quando tinha 15 anos, e com a qual ainda me identifico, porque, é verdade, eu ainda visto pijama de ursinho e peço colo. :)

Dez 'criancices' que deveríamos preservar:

- pedir colo;
- andar com os pés descalços;
- comer bolo da vovó (sem se preocupar com as calorias);
- ter brilho nos olhos;
- chorar de vez em quando;
- não mentir;
- vestir pijama de ursinho;
- perguntar muito;
- sonhar com os anjos;
- acreditar que aquilo que pedimos pra “papai do céu” pode realmente acontecer.

3 comentários:

Carol Machado disse...

To apaixonada pelos seus textos.. rs
Saudadona Le!
bjão!

Carol Machado disse...

PS - Acho q eu sou muuuito criança ainda... rsrs

Letticia Caruso disse...

Assim que é bom!!!
Saudades também.