CLICK HERE FOR BLOGGER TEMPLATES AND MYSPACE LAYOUTS »

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Inesperado.


 
O inesperado bateu-me à porta. Uma música desconhecida tocou.
 
Foi assim que a indiferença que luzia meus dias transformou-se em noite, acrescentando saudades às minhas horas.
 
Chegou esquecido de suas verdades, mas falava o idioma do amor. Tinha o peito machucado pela resignação, mas se mostrou escandalosamente humano. Tinha o coração, ainda que dominado pela tristeza e pela dor, transbordado de caráter.
 
De onde, por Deus, vinham tanta coragem e tanta firmeza? Quanta renúncia!, e ainda em pé. As lágrimas, que caíam sem reservas, eram testemunhas silenciosas e urgentes do sofrimento daquela alma que gritava por ajuda. 
 
Lágrimas que marcaram para sempre o terreno arenoso do meu destino em construção.  Ah, como eu queria ver o fundo daqueles olhos repletos de paixão!
 
Vamos dormir, antes que amanheça.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Superman - Can you read my mind

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

por Eugenio Mussak

"(...)

A rotina que mata o amor é a rotina do que não se faz. Da declaração de amor que deixa de ser feita, do elogio economizado à roupa simples do dia a dia, do sorriso sonegado ao acordar, da palavra de carinho roubada à despedida, da comemoração não feita em qualquer conquista, do boa noite seco, sem um beijo, antes de dormir.

O amor não se sustenta sem a intenção de amar e sem a ação pequena, mas constante, de alegrar o outro com sua presença. (...)"




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ele x Ela

Ele é conciso.  Ela é prolixa. Ele busca o chão. Ela quer asas. Ele tem a alma serena. Ela é um interior em polvorosa. Ele é complexo. Ela é profunda. Ele medita. Ela se agita. Ele faz perguntas. Ela tece explicações. Ele tem fome de cultura. É disso que ela se alimenta. Ele falta. Ela excede. Ele tem sono fácil. Ela sofre de insônia. Ele diz obrigado. Ela pede desculpas. Ele tenta não ser. Ela já não é. Ele tem adeus breve. Ela se apega a despedidas. Ele é reservado. Ela se expõe. Ele dedilha incoerências. Ela também. Ele se intimida. Ela acha graça. Ele abre caminhos. Ela segue com medo. Ele coleciona questionamentos. Ela busca esclarecer. Ele quer ser racional. Ela é pura emoção. Ele ultrapassa limites. Ela se ressente. Ele é estrada. Ela é correnteza. Ele tem voz suave. A dela se embarga com facilidade. Ele é diplomático. Ela não suporta formalidades. Ele age. Ela reage. Ele tem olhar embriagante. Ela se entrega ao vício. Ele é equilíbrio. Ela é exagero. Ele é enigma. Ela é desafio. Ele é comedido. Ela não se impõe limites. Ele elogia. Ela se envaidece. Ele é gentileza. Ela é meiguice. As palavras dele soam como haikais. As dela, como prosa sem fim. Ele é low profile. Ela procura ser. Ele ensina. Ela aprende. Ele aprende. Ela ensina. Ele analisa. Ela apoia. Ele tem sorriso contagiante. Ela se contamina. Ele é confuso. Ela se perde. Ele interroga. Ela não faz cobranças. Ele foi embora. Ela sente saudades.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Titi

Quando minha mãe se aposentou, em setembro de 2002, depois de 39 anos trabalhando no TRT, havia acumulado mais objetos pessoais naquela sala de Diretoria Geral do que qualquer um poderia imaginar. No dia D, sofrendo por ter de lidar com a aposentadoria, chegou em casa com coisas que eu sequer sabia que existiam. Entre elas, alguns poucos pertences do meu pai - que já havia falecido, no Reveillon de 97/98, e que também trabalhava no TRT - que permaneceram escondidos em alguma gaveta do Tribunal, até o dia da aposentadoria da minha mãe.

Hoje, reli uma carta de aniversário, encontrada no meio dessas coisas, que me foi escrita quando completei 3 anos. Segue um pedacinho:

São Paulo, 13 de agosto de 1981.
 
Letticia.
 
Quando você se aproxima, (...) traz junto toda a paixão despertada neste pai, fã incondicional da sua beleza, da vida que emana do seu rosto claro, dos seus cabelos loiros e eternamente desalinhados. Aquele desalinho bonito que só as pessoas lindas como você conseguem.
 
(...) basta que você, quando ler isto, sinta e respire toda a paixão, o carinho e a ternura que tentei, escritor inconstante e de parcos recursos, transmitir-lhe.
 
Você (...) povoa, com tudo a que tem direito, as fantasias, os sonhos e as esperanças de um pai que sempre vai continuar tentando acertar com você, apesar de sabedor das enormes dificuldades de relacionamento que deverão suceder e atropelar toda esta enorme vontade de lhe oferecer mais, sempre mais.
 
Lembrar-me-ei sempre com saudades da minha pequenina Titi, nos seus três aninhos, meiga e amiga, irreverente e brincalhona, enfim, com os atributos maiores da criança sadia e livre que você é. Lembre-se sempre do grande amor que sinto por você. Hoje, e a qualquer tempo, em qualquer situação ou idade.

Papai.

A loira (mais velha) de cabelos desalinhados. Onde foram parar meus cachos?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

on Hidden Ability

Linus: - Everyone's so upset because I didn't make the honor roll... My mother's upset, my father's upset, my teacher's upset, the principal's upset... Good grief! They all say the same thing... they're disappointed because I have such potential... THERE'S NO HEAVIER BURDEN THAN A GREAT POTENTIAL!




sábado, 28 de agosto de 2010

... a minha-Saudade-dele...

Decidi, então, estabelecer uma política de boa vizinhança entre mim e a minha-Saudade-dele. Uma saudade imensa, de um passado não muito distante, que insiste em usar meu peito de abrigo. E aí fico, eu, à deriva Dela: a inabalável minha-Saudade-dele.
 
É uma saudade que vai comigo pra cama toda noite, acomoda-se confortavelmente nos meus lençóis e no meu travesseiro e me deseja “boa noite”. Assim mesmo, toda vez, sempre igual. E eu quase não durmo com Ela, ali, deitada esplendorosa e espaçosa no meu colchão.
 
Sendo assim, achei que era melhor parar de lutar contra Ela; não gastar tanta energia tentando empurrá-La para fora da cama (já que Ela se tem mostrado mais forte que eu), e ceder, resignada - no meu colchão, no meu peito e na minha vida - o espaço que Ela demanda. Com isso, espero enfrentar noites menos cansativas e sugadoras de vigor.
 
Porque a minha-Saudade-dele descobriu, em um enorme coração, imensa disponibilidade para recebê-La e nutrí-La de tudo aquilo que Ela precisa para continuar querendo estar. Assim, instalou-se. 

E ficou.
 
Não mais fugirei Dela. Quer ser dentro de mim? Seja! Fique o tempo que julgar necessário e mude-se tão logo estiver pronta para isso. Ou, de tanto existir, esgote-se dentro de mim; não importa... enquanto isso, sem grandes estardalhaços, eu simplesmente vou cuidando da minha vida. Não Dela.
 
É o nosso acordo tácito.
 
Talvez funcione: dedicar menos atenção e energia a Ela, apenas deixando-A existir, no canto que Ela escolheu. Fique, se precisar; vá, se puder. Por ora, é o que nos posso oferecer e, assim, não acentuar os sentimentos colaterais que Ela me causa. Que, aliás, são mais severos e prejudiciais que Ela própria.
 
Apenas não contem à minha-Saudade-dele: - mesmo, eventualmente, tendo Ela me deixado, sempre haverá uma frestinha pela qual Ela será capaz de passar e encontrar meu coração, de novo, disposto a alimentá-La. Essas frestinhas são as mais difíceis de vedar e eu, confesso, coleciono algumas.
.
.
.


Ah, a frestinha? Recordações...

Não seria perfeito?

 "A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?" (Charles Chaplin)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Letras da vida


Temidos por muitos como chatos e complicados, os clássicos da literatura divertem, ensinam e (não menos importante) iluminam sua vida. Entre de cabeça.

[texto Bruno Moreschi]

Numa roda de amigos, a conversa é sobre literatura. Cada um revela ao outro o que está lendo. Num misto de esnobismo e insegurança, alguém diz que está “relendo” determinado livrão clássico. Mentira. Receoso de colocar em questão sua reputação intelectual, a pessoa dificilmente assumiria que lê pela primeira vez alguma obra conhecida, como um Hamlet, do inglês William Shakespeare, ou um Crime e Castigo, do russo Fiódor Dostoiévski.

O escritor italiano Italo Calvino começou sua obra Por Que Ler os Clássicos, um pertinente ensaio sobre a importância da leitura desses livros, tratando justamente dessa atitude que recende a hipocrisia. De acordo com Calvino, não há idade para começar a ler um livro considerado famoso e respeitado pela crítica. E complementa com um recado consolador aos que temem assumir em público sua incipiente capacidade literária: “Por maiores que possam ser as leituras de formação de um indivíduo, resta sempre um número enorme de obras que ele não leu.”

A frase de Calvino destoa dos inúmeros preconceitos que cercam a literatura considerada clássica pela crítica especializada – ou canônica, numa classificação mais acadêmica. Graças aos inúmeros estudos sobre essas obras, elas podem passar a falsa impressão de serem leituras destinadas apenas a seletos (e eruditos) especialistas.

Isso não é uma verdade. Livros, sejam eles respeitados ou não, foram feitos por seus autores para serem lidos. Na verdade, quem teme ou apenas usa os livros clássicos como grife intelectual tenta se proteger. Ao evitar suas páginas, ficam livres de uma experiência que quase sempre questiona nossas certezas e sugere um mundo mais complexo. Trata-se de uma proteção revestida do mais ignorante dos medos. Aquele alimentado por ideias ditas pelos outros, não por uma experiência individual de leitura.

sábado, 14 de agosto de 2010

on Being Happy

Lucy : - Look at that crazy dog...
Charlie Brown : - I sure wish I could be that happy all the time.
Lucy : - Not me... It's hard to feel sorry for yourself when you're happy.

domingo, 8 de agosto de 2010

Maturidade.

Depois de umas peças que a vida me pregou no começo desse ano, eu o escolhi como o ano de virar “gente-grande”. Mas as coisas não têm funcionado exatamente como eu planejei.

A minha maturidade – e junto com ela, minha paz de espírito e minha felicidade – pegou a chave do carro, o agasalho surrado e saiu, explicando que ia comprar cigarros. Não voltou até agora.

E sem ela, não consigo nem fingir que sou uma pessoa equilibrada, paciente, simpática, amorosa e gentil. Sem ela, não consigo achar o lugar certo para esconder tudo aquilo que eu não deveria ser. Sem ela, fico cultivando essa relação de amor e ódio comigo mesma e com a minha vida. Sem ela, não consigo ser feliz.

E eu nem preciso de muito para ser feliz: só da minha maturidade de volta, com cara de arrependida, batendo à minha porta, dizendo que nunca mais vai me abandonar. É querer muito?

Mas, claro, se querer bastasse, eu seria a personificação do porão, abarrotado de tranqueiras desnecessárias e sem uso que as pessoas acumulam.


 Maturidade, volta pra mim, volta.

sábado, 7 de agosto de 2010

Claustrofobia.

Andava pela rua, fria, com a mesma dor de cabeça do dia anterior. Ia em busca de um lugar tranquilo o suficiente para uma dose de leitura; de um local onde a sensação de claustrofobia espiritual fosse, no mínimo, suportável.
 
Sentia falta da solidão prazerosa que a acompanhara durante o mês anterior; era evidente que sentia. Ficar sozinha era do que ela precisava. Porque, estando de volta à rotina, já não conseguia descobrir espaço para o encontro com a solidão e com as coisas de que sua mente se precisa nutrir. Não lhe foram permitidos, desde sua volta, muitos momentos de tranquilidade: para ler, escrever, pensar, ouvir música, rir, chorar, rezar, meditar... Havia sempre alguma interrupção.
 
Enquanto andava, pensava na conversa do dia anterior. Toda aquela troca continha um fundo de paz e verdade, de fato. Pensando assim, parecia não importar se aquilo lhe fora dito por um amigo, um familiar, um conselheiro, um simples conhecido ou um anjo.
 
Ter ouvido e pensado em tudo aquilo esclarecera alguns pontos da situação; embora tenha plantado interrogações em tantos outros. Como seria bom perder um pouco dessa complexidade que a tudo busca interpretar!
 
A direção, então, parecia seguir um contexto apoiado em um misto de razão e emoção; de realidade e fantasia. Aquela velha lógica singular que parece transcender a compreensão.
 
Andou em direção ao parque – desde que “aprendeu” aquele caminho, sempre que se distrai, acaba sentada em um de seus bancos – de posse de um livro, um caderninho e uma caneta, cuja tinta já quase chega ao fim.
 
Escolheu um banco. Não leu. Pensou. Chorou. Escreveu.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O que eu quero.

Quero reler três ou quatro dos muitos livros que você, tão generosamente, compartilhou comigo. Que tanto me acrescentaram e dos quais tanto sinto falta. Aqueles mesmo, que devolvi cheios de ‘post-it’, com comentários pessoais, metáforas, explicações, dúvidas e analogias que queria dividir com você. Quero deixar mais dos já tradicionais bilhetinhos de agradecimento, dentro das leituras que você, carinhosamente, seleciona, sugere e empresta.

Quero, sem medo nenhum, abrir-me a tudo àquilo que a você compete me ensinar. Quero me sentir desafiada (você sabe como os desafios me divertem e estimulam), e até intimidada, por sua cultura e inteligência, por sua maturidade e serenidade. Porque tão poucos as possuem de forma tão atraente!

Quero nos olhar refletidos no espelho e achar a cena tão linda, que mereça ser fotografada.

Quero mais conversas em bancos de parque, mais almoços intermináveis em restaurantes vegetarianos ao ar livre, mais noites regadas a pão integral, vinho tinto seco e queijos de todo tipo. Quero apreciar mais noites estreladas, caminhando de mãos dadas com você, depois de um bom chocolate quente. Quero compartilhar mais epifanias e momentos de cumplicidade total, sem máscaras, sem pudores, sendo apenas você e eu.

Quero experimentar mais das nossas relações de gentileza e civilidade, em tempos tão hostis. Quero testemunhar seu sonambulismo, enquanto leio, insone, madrugada adentro. Quero sentir-me ‘repleta’ (que, nós dois sabemos, nada tem a ver com precisar do outro para sentir-se ‘completo’), simplesmente por tê-lo ao meu lado, dividindo o mesmo edredom. Quero ter um sorriso roubado quando me beijar a mão, durante o sono, completamente inconsciente. Quero receber o seu “melhor bom dia”.

Quero mais conversas “carregadas”, tão comuns e necessárias a pessoas profundas e complexas como nós dois. Quero me encontrar no seu equilíbrio e desvendar todas as suas metades. Porque você não possui somente duas. Quero descobrir e encontrar novas afinidades e identificações entre nós dois, se isso não for pretensão da minha parte, sendo você essa pessoa tão especial que é.

Quero ouvir Jack Johnson ao som das cordas do seu violão e da sua voz suave e tão querida.

Quero cometer todos aqueles erros comuns que fotógrafos, iniciantes como eu, cometem em relação à luz, foco, composição, criatividade, fotometria e, ainda assim, saber que você considera minhas fotos dignas de ilustrar seu blog e sua vida.

Quero parar de bradar que ser independente é provar para tanta gente que não me diz respeito, que posso ir além dos meus limites. Porque nem sempre posso. Mas quero que você descubra minha independência como algo genuíno.

Quero que me apresente, em vídeo, a mais autores, que primeiro me apresentou em leituras, que eu antes desconhecia. E quero, eu mesma, apresentá-lo a tantos livros, filmes, documentários e artigos legais e, até, a uma roupa nova que quero muito que você veja. Porque me imaginei usando-a para você quando a escolhi.

Na verdade, penso muito em você e naquilo que fizemos. O que me leva, acima de tudo, a querer aquilo que ainda não fizemos. Aquela palavra ‘latente’ que, eu sei, você não gosta, lateja forte dentro de mim.

Eu quero você. Por inúmeros motivos e por motivo nenhum. Simplesmente por querer. Mas se lembre: querer, para mim, nunca foi precisar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O.Noir - It's better in the dark.

Entre as dezenas de experiências incríveis que a viagem ao Canadá me proporcionou, a mais inusitada, talvez, tenha sido o jantar no O.Noir, em Montreal.  Foi a grande concessão luxuosa que fiz a mim mesma em matéria de refeições: saí da proposta econômica de “mochilão” e gastei, com gorjeta (15%) e tudo, quase 50 dólares canadenses em um único jantar.

Foi uma estripulia, é verdade, mas, também, um “desafio” pelo qual eu decidi que iria passar, desde o momento em que fiquei sabendo da existência de tal restaurante. E para mim, que estava buscando quase que um retiro espiritual nessa jornada solitária, era mandatória uma prova assim.

Como o próprio nome sugere, trata-se de um lugar onde se come na mais completa escuridão. A proposta é passar pela experiência de “ser cego”, como, de fato, são todos os garçons que lá trabalham.

O bar que dá boas vindas aos clientes – único lugar iluminado por onde passei – é decorado com pôsteres de filmes que remetem à deficiência visual. Lembro-me de “Perfume de Mulher”, “À Primeira Vista”, “Ensaio Sobre a Cegueira” e “Ray”.

Existe a possibilidade de escolher um prato do menu; mas há, também, a atraente alternativa de optar pelo ‘surprise dish’. Como eu não como carne vermelha, optei pelo prato que tinha peito de frango, sem, contudo, ler o resto do menu. Queria que os demais ingredientes fossem surpresa (torci com muita força para não vir arroz – seria um desastre total!). Estava disposta a testar a minha capacidade de reconhecer os acompanhamentos pelo gosto, cheiro, textura, formato (sim, eu apalpei tudo, antes de comer). Mas escolhi a ‘surprise desert’, que - ACHO - era uma torta de mousse de chocolate, com alguma frutinha azeda do tipo blueberry, ou algo parecido.

Mat foi quem me atendeu. Depois de eu estar ciente das “regras” do lugar – não são permitidos isqueiros, velas, celulares, câmeras fotográficas, lanternas ou qualquer tipo de luz, ÓBVIO – ele me chamou pelo nome (Laetitia, com um sotaque francês engraçadinho!), pediu que segurasse, com a minha mão esquerda, no ombro esquerdo dele (- Com firmeza!, ele brincou), e conduziu-me à minha mesa.

Enquanto Mat me guiava pela escuridão, comentei: - “Me sinto um pouco boba por estar usando óculos aqui!” E ele, dando risada, respondeu: -“De fato, eles não terão muita utilidade”. Depois, explicou detalhadamente o que eu deveria fazer e como os objetos estavam dispostos sobre a mesa.

Algum tempo mais tarde, Mat voltou com um prato, onde tinha um pão super quentinho e uma mini-embalagem de manteiga – que eu mesma teria que passar no pão, claro. Cortei-o sem grandes dificuldades, abri a manteiga e espalhei-a pelo pão. Moleza! Like a knife through butter!

A forma como ele entregava os pratos e os copos era bastante funcional. Mat  sempre chegava pela minha direita e dizia “Hi, Laetitia (com aquele sotaque bonitinho!)”, para denunciar que estava lá. Dizendo o que trazia, encostava o prato ou copo no meu ombro direito, de onde eu deveria pegá-los.  Ele me orientou para que eu deixasse o copo sempre encostado na parede, do lado esquerdo, para que ele não o derrubasse, quando fosse me servir.

No escuro, não me senti desesperada, aflita, ansiosa ou qualquer sentimento parecido. Fiquei lá, sentada confortavelmente, apreciando a comida, a minha companhia e a oportunidade de experimentar uma realidade que eu não conhecia. Foram momentos de meditação, de enorme concentração em mim mesma e no que eu estava fazendo. No início foi um pouco complicado, mas bastaram alguns minutos para que os meus olhos (e os demais sentidos) se acostumassem à escuridão (mesmo que eu continuasse sem enxergar absolutamente NADA).

Fiquei brincando de “perder” outros sentidos. Em silêncio - uma vez que fui sem acompanhante e a única pessoa com que eu interagia, quando necessário, era o Mat - fiquei testando como seria tapar os ouvidos, tampar o nariz, prender a respiração, fechar e abrir os olhos, para perceber se fazia alguma diferença. Apalpei tudo que estava ao meu alcance, de cima a baixo, de um lado a outro. Inseri-me no contexto com bastante tranquilidade.

Mas nem todos pareciam tão tranquilos. Foi interessante notar como o comportamento das pessoas mudava em uma situação extrema como aquela. Elas passavam a falar alto demais! Incomodava até. E, aí, tenho que confessar, me desviava por alguns minutos do processo meditatório no qual eu estava imersa.

O barulho chegava a ser tão grande que, às vezes, os garçons pediam para que diminuíssem o volume de voz, porque eles precisam escutar uns aos outros, para não se trombarem, enquanto caminham pelo restaurante. Será que alguém acha que a cegueira está atrelada à surdez? As pessoas realmente falavam MUITO alto. E, claro, sempre tinha alguém quebrando alguma louça.

Quando chegou o prato principal (peito de frango grelhado com batatas, vagens e tomates cozidos, e algum outro legume que não fui capaz de identificar) tentei usar garfo e faca. Desisti desta nos primeiros 10 minutos e passei a usar aquele na mão direita e a minha mão esquerda como talher “assistente”. Às vezes, acontecia de tentar colocar um pedaço de comida grande demais na boca e me divertia com a própria falta de destreza! Há de se levar em consideração o desafio acessório que trago comigo: tenho parestesia (falta de sensibilidade) no lábio inferior e no queixo. Por isso, além de tudo, nem sempre eu acertava onde estava minha boca.

A “irrealidade” da situação - o que me decepcionou um pouco - se fez perceber quando me dei conta de que poderia comportar-me da forma como eu bem entendesse, uma vez que ninguém, supostamente, estaria me vendo. Eu jamais me portaria à mesa daquela forma, se soubesse que outros me estavam observando. Será que estavam?

Gostaria de ver como ficou meu guardanapo depois do jantar. Não me deixaram. Adoraria ter tido filmado o meu comportamento durante a refeição. Não fazia parte do “pacote”. Ao menos me deixaram enxergar na hora de pagar pela comida. Foi um grande alívio! Eu já confundia os dólares canadenses de posse de todos os meus sentidos; imagina na escuridão!

A primeira coisa que fiz, quando saí do blecaute, conduzida novamente por Mat até o bar por onde entrara, foi olhar-me no espelho e conferir se tinha o rosto, o cabelo, as mãos, os dentes ou a roupa suja de comida. Estava tudo ok. Passara no teste.

É uma experiência que eu realmente recomendo para aqueles que querem ter a chance de entender um pouco mais de um mundo que grande parte de nós desconhece; que, literalmente, grande parte de nós não vê.

O O.Noir tem um papel importante em ações voltadas aos deficientes visuais, preparando-os e treinando-os para entrar no mercado de trabalho, empregando-os, doando parte dos lucros do restaurante a ONGs que dão assistência a cegos de todas as idades, e ensinando aos que enxergam um pouco mais do modo de vida dos deficientes visuais.

Saí de lá com duas sensações aparentemente contraditórias: a primeira, de que devo valorizar ainda mais o sentido da visão, que parece tão banal no meu dia a dia; a segunda, de que, apesar das dificuldades enfrentadas, é possível, sim, viver sem enxergar e, mais importante, ter qualidade de vida.

Além disso, hoje, mais do que nunca, tenho grande admiração pela capacidade de desempenho dos deficientes visuais. Porque, se “em terra de cego, quem tem um olho é rei”, lá, naquele lugar, rei para mim era o Mat, que me guiava, orientava e se locomovia com a maior destreza do mundo, em meio àquela gritaria, entre as mesas e os demais garçons.

E para quem me perguntou como foi a experiência, depois do comentário engraçado – mas impróprio – do amigo que me recomendou o O.Noir, passei a responder com outra pergunta: - Você nunca transou no escuro? Então, é mais ou menos assim. No começo é confuso, depois flui naturalmente. 

Foto minha, jantando no O.Noir. Desculpa, eu precisava fazer essa piadinha!

domingo, 1 de agosto de 2010

My Canadian Experience

Como acontece com o povo brasileiro, também não é possível identificar o canadense pela “cara”. E, se não tem cara, o Canadá tampouco tem uma culinária, uma dança, uma música ou uma arquitetura típicas. É um país essencialmente de imigrantes, que os recebe – assim como seus costumes, suas crenças e culturas – de braços abertos.

O Canadá é, provavelmente, a nação mais tolerante do mundo e ostenta uma das populações mais cosmopolitas do planeta – mais de 200 etnias estão representadas no país. A cidade de Toronto é o retrato mais óbvio dessa pluralidade.

Uma em cada seis pessoas que vivem no Canadá não nasceu lá; mais de 40% dos residentes não são descendentes de franceses ou ingleses. Em nenhum outro lugar do mundo há tanta diversidade cultural convivendo em harmonia.

Diferente dos EUA, onde, para se conseguir a cidadania americana, é necessário que se assuma o ‘american way of life’, o governo canadense estimula a preservação dos costumes e estilo de vida de cada imigrante. A tolerância e a paz reinam naquela terra gigante. A única coisa que o Canadá não tolera é a intolerância.

Além da cultura do plural, do direito sagrado de divergir, o Canadá se mostra uma verdadeira terra de concessões, onde nada é feio ou ridículo. Às pessoas é dado o direito total e irrestrito de serem quem desejam ser. Ninguém no Canadá se destaca da multidão, porque lá não existe o incomum. Incomum é ser “normal”.

Ninguém liga se você é branco, preto, amarelo, azul ou verde; se você é norte americano, europeu, asiático, marciano ou lunático; se você é protestante, espírita, budista, muçulmano, judeu, agnóstico ou ateu; se você acredita em um, nenhum ou em vários deuses; se você é hetero, homo, bi ou tri – só o Brasil que não podia ser hexa. 

Nas ruas, as pessoas não têm a preocupação de estarem bem vestidas, penteadas, com a roupa impecavelmente passada a ferro. Ninguém repara se o outro tem o cabelo de 3 ou 4 cores, se a calça está rasgada ou se o soutien por baixo da blusa transparente é vermelho .

Ninguém liga se você usa meia com chinelo, tiara de estrela que brilha no escuro ou se anda de bicicleta vestido de Papai Noel, em pleno julho, no centro da maior cidade do país. Ninguém repara se suas unhas estão mal feitas, se o salto é alto demais ou se a saia tem pano de menos. Ninguém o recrimina por você dançar feito um espantalho ou cantar com voz de taquara rachada no metrô ou no meio da rua. Ninguém ri da camisa laranja com flores vermelhas do velhinho sentado ao lado no banco do ônibus ou do short da mocinha acima do peso mostrando mais do que seria razoável mostrar em qualquer outro país do mundo.

Mas lá é o Canadá.

Tudo isso pode parecer complexo e intimidador em um primeiro momento, mas logo fica claro que a união de grandes e pequenas culturas do mundo propulsiona um desenvolvimento abrangente e inclusivo, que só tem a agregar à cultura local. E que não pode ser visto em nenhum outro lugar.

Se você está se sentindo meio fora de contexto no seu país, o Canadá pode ser uma boa opção. Lá, você pode ser você mesmo; ninguém vai reparar. Afinal, trata-se do Canadá.

Mas, saiba disso: o que é proibido por lei é severamente punido. Por isso, também, o Canadá é um dos países mais seguros do mundo, com elevadíssima qualidade de vida.

Passar 23 dias em um lugar assim, tão permissivo, exacerbou as minhas tendências de ser um pouco relaxada com a minha aparência. Eu brinco que o Canadá me fez mal nesse sentido. Estava sozinha e não tinha ninguém pra me julgar se eu usasse dois dias seguidos a mesma roupa, se saísse sem disfarçar as olheiras com corretivo, sem alisar a franja no secador, sem lixar as unhas - detonadas pelo ato de fazer e desfazer mala a cada 3 ou 4 dias -, usando roupa sem passar e sem lavar o cabelo todo dia. Eu simplesmente fazia um coque no alto da cabeça, mochila nas costas, e saía pelas ruas, sem compromisso com nada. Sem me preocupar com o que podiam estar pensando de mim. E provavelmente não estivessem pensando nada, porque, afinal, eu estava no Canadá. E lá qualquer um se encaixa; nada destoa do contexto geral.

Lugar ideal para boas férias; para ser quem se é!


sábado, 31 de julho de 2010

Desnorteio.

Pergunto-me, incansavelmente: onde foi parar minha ingenuidade pueril (aquele misto de desconhecimento cego e inexperiência agradável que me conferia tanta serenidade)? Quem a levou? O tempo?
 
Ah, o tempo! Este intátil e impiedoso que me rouba os anos... quantos ainda será que me reserva?
 
Sento, emudecida, e pondero: que sabor de desnorteio é este que sinto?
 
E a grande estrela do céu, sem questionar, aquece minhas indagações...

sábado, 24 de julho de 2010

Aprender a voar.

Essa viagem me deu asas. E eu estou aprendendo a voar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Partnership for Peace.

"De onde se planta a paz, da paz quero a raiz".


(...)

Este país, de onde escrevo, em meus últimos dias de férias, ficará para sempre em minha memória como o lugar no qual fui capaz de respirar a verdadeira independência. Sinto que, finalmente, criei raízes dentro de mim.

Em uma permanência pacífica, redescobri um conforto que ficara esquecido em algum lugar pelo sinuoso caminho do autoconhecimento.

Foi mais ou menos assim: olhei ao redor e estava sozinha. Vi-me sentada em uma imensa rocha, no topo de uma montanha, deslumbrando aquele horizonte [de possibilidades?] aparentemente infinito. E a natureza, imponente e tranquila, manifestando-se para mim. Parecíamos cúmplices daquele grande evento que estava se passando dentro de mim.  Éramos as únicas testemunhas: eu, a natureza, meu coração tranquilo e minha mente esvaziada de anseios.

Como era linda aquela paisagem que, de repente, vislumbrei, sozinha, no interior daquele quartinho mal iluminado!

É isso mesmo. Tive essa catarse lá mesmo, sentada em uma cama, pernas cruzadas, olhos, coração e mente abertos, em um quarto desconhecido e silencioso - que muito me dizia.

Sabe o que isso pode significar? Que talvez eu não precisasse ter vindo tão longe para me reencontrar. Não me arrependo de nada. Passei por experiências incríveis! Mas talvez eu apenas devesse ter deixado a solidão manifestar-se, sem nada temer. E, assim, quem sabe, eu tivesse compreendido a importância e a satisfação de estar realmente só. 

Definitivamente, não me amei à primeira vista. Talvez tenha faltado apenas uma segunda olhada para que eu reconhecesse neste patinho, feio e desajeitado, um cisne, elegante e confiante de si. 

Porque foi isso que aconteceu: acabei descobrindo que posso, sim, ser apaixonante. Mas só para quem for capaz de me enxergar com os meus próprios olhos.

E estes, sinto informar, somente a mim foram dados.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Epifania.


Poucas vezes em minha vida tive momentos de absoluta clareza. Como quando, por alguns segundos, o silêncio abafa o ruído e eu posso sentir mais do que pensar. As coisas parecem tão claras. O mundo parece tão renovado. É como se o mundo todo começasse a existir. Não posso prolongar esses momentos. Me apego a eles, mas, como tudo, eles se desvanecem. Minha vida foi vivida nesses momentos. Eles me trouxeram de volta ao presente e percebi que tudo é exatamente como deveria ser”.

George, personagem do filme “A Single Man” (2009).

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Voa, coração!

Considero-me, apesar das crises de identidade, uma pessoa razoável e coerente quase que a maior parte do tempo. Até nos defeitos - porque os carrego sempre comigo. Mas a verdade é que, nas últimas semanas, eu vinha convivendo com uma incoerência de personalidade - logo eu, que tanto condeno a incoerência - que, se por um lado me conferia certo equilíbrio, por outro, me confundia um bocado.

Talvez fossem minhas duas inquilinas manifestando-se desordenadamente, brigando por espaço, em uma sufocante batalha interna entre razão e emoção. Porque eu posso, muitas vezes, ser exata, matemática e científica; mas meu coração fala alto e chora por pouco. E como é imenso! Sem, contudo, ser grande o bastante para carregar, resignado, as limitações que de mim se exteriorizam e as frustrações que sou especialista em colecionar.

Por conta disso, vinha alternando momentos de profunda paz interior e satisfação de ser quem eu sou, com picos momentâneos, mas agudos, de desorientação e questionamentos. Sentia-me tão perto de me reencontrar quanto de me perder por completo. Eram os evidentes altos e baixos de uma pessoa inquieta como eu.

Fato é que meu coração encontrava-se sufocado e dominado por sentimentos tāo frustrantes, que eu já não podia fazer qualquer coisa para acalmá-lo. Instaurava-se um furacão, com a maior facilidade, dentro do meu peito. E eu cometia erros infantis e colocava tudo a perder.

Hoje, aprendi que nāo posso sufocar tais sentimentos e, na maioria das vezes, sequer controlá-los. Mas que posso, sim, lidar racionalmente com eles, em quase todas as situações. Basta, para isso, dar-me o tempo necessário para compreendê-los e, só entāo, tomar qualquer açāo. Simplesmente não agir sem antes pensar; parece fácil, não?

Mais que isso, hoje sei que o caos, que às vezes me acompanha, pode ser útil para desafogar o coração; para eliminar aquilo que o envenena, deixando-o leve. E coração leve é mente livre.

Assim, liberdade e leveza dão espaço à expressão verdadeira da minha essência, que, então, abre-se a possibilidades reais de transformação e crescimento interior.


Esses têm sido os meus dias por aqui, em férias desse dramático mundo hiperbólico de anseios e preocupações que me tragavam para a escuridão.

Como eu disse, são somente férias. É provável que, estando de volta, eu me depare com o caos mal resolvido que deixei para trás quando, entre soluços e lágrimas, vim brincar de ser independente. No entanto, isso já não me preocupa muito. Porque a situação pode ser a mesma, mas eu, definitivamente, não sou.

Só falta, agora, me livrar deste gostinho amargo  - resquício de palavras e gestos nada doces que eu manifestei - que não quer me abandonar.

"Voa, coração, que a minha força te conduz; que o sol de um novo amor, em breve, vai brilhar. Vara a escuridão, vai onde a noite esconde a luz; clareia seu caminho e acende seu olhar. Vai onde a aurora mora e acorda um lindo dia. Colhe a mais bela flor, que alguém já viu nascer. E não se esqueça de trazer força e magia, o sonho, a fantasia e a alegria de viver."

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Liberdade.

"Como um pássaro estarei a voar...
E minha alma a flutuar...
Livre como o pássaro no ar...
Deixo a paz me dominar".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

You'll Be In My Heart

[Para a pessoa mais importante da minha vida. Dentro de 10 dias estaremos juntos novamente.]

 

"Come stop your crying, it will be all right. Just take my hand, hold it tight. I will protect you from all around you, I will be here, don't you cry. For one so small, you seem so strong. My arms will hold you, keep you safe and warm. This bond between us can't be broken. I will be here, don't you cry. 'Cause you'll be in my hear, yes, you'll be in my heart, from this day on now and forever more. You'll be in my heart, no matter what they say, you'll be here in my heart, always. Why can't they understand the way we feel? They just don't trust what they can't explain.I know we're different but, deep inside us we're not that different at all. Don't listen to them, 'cause what do they know? We need each other, to have, to hold. They'll see in time, I know. When destiny calls you, you must be strong, I may not be with you, but you've got to hold on. They'll see in time, I know, we'll show them together. 'Cause you'll be in my heart, yes, you'll be in my heart, from this day on, now and forever more. You'll be in my heart, no matter what they say. You'll be here in my heart, always".

terça-feira, 13 de julho de 2010

Diário de viagem.

"And those who were seen dancing were thought to be insane by those who could not hear the music".

Neste espaço momentâneo de liberdade, minha natureza questionadora ausentou-se de mim. Noutros tempos, eu mal conseguia entender o que me agarrava tão fortemente a ela; neste instante, observo-a apenas de longe. E, assim, desvendo um pouco mais da minha essência; sobra mais espaço para estar em consonância comigo mesma.

Nesta solidão, que nada tem a ver com ressentimento de estar sozinha, reconheço apenas a minha existência. Não estou para ninguém, só acessível para mim mesma.

Enquanto, em uma cafeteria, tomo um 'Icespresso', sentada à mesa de uma calçada qualquer, escrevo* nisto, que passei a chamar de ‘diário de viagem’. Trata-se de um caderninho que ganhei, antes de partir, de alguém que achou que eu faria bom uso dele.

Não estou na minha zona de conforto, mas me sinto incrivelmente confortável. Não estou na mesa de sempre do meu café habitual, não aguardo chegar um velho amigo que me fará companhia durante o almoço, sequer tenho comigo meu celular. Somos apenas eu e a alegria de estar desfrutando da minha própria companhia. É um bocado revigorante!

Porque aqui ninguém se preocupa com o que eu sou ou deixo de ser. Neste lugar desconhecido, sou mais uma no compasso anônimo da solidão urbana. E ela bate tão forte quanto o coração que levo no peito, exultante com a não obrigação de roteiro, horários ou destinos. É a mais fascinante das liberdades: a do deslocamento sem compromisso com nada.

Sinto-me como uma pessoa que há muito não se permitia dançar, mas que, hoje, resolveu, sem medo de ser feliz, arriscar alguns passos de dança, aqui mesmo, nesse país que sequer possui uma dança que o caracterize.

E como é bom dançar!


*Esse texto - como muitos dos que tenho postado no blog - foi originalmente escrito à mão, nas páginas de um caderninho que, de fato, me foi dado com esse propósito.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Niagara Falls.

"I got no time to be where I don't need to be".



Hoje saí, sem rumo, para brincar de ser turista independente, nesta cidade aonde há pouco cheguei; saí para brincar de ser eu mesma. E, acreditem, adorei a brincadeira!

As lembranças do meu país, da minha língua materna e das pessoas que eu amo me dão a noção de referência que eu preciso para não me sentir perdida aqui, acima da linha do Equador.

Mas, sentir-me perdida, já não me importa tanto. Como já não me importa o fato de não conseguir manter os cabelos arrumados (culpa da umidade do ar), de ter o pescoço sempre suado pelo calor quase insuportável e os pés inchados de tanto andar.

Pés, estes, que têm me levado por caminhos nos quais nunca me sinto sozinha, apesar de estar. Só o vento me dá a direção. E, por esses caminhos, sigo sem olhar para trás, no pretexto de viver mais um dia de paz e felicidade.

E, assim, aos poucos, mudo a minha forma de ver o mundo. Ou, ao menos, esse pedacinho do mundo. Talvez o mundo, daqui, me veja diferente também. Eu me sinto diferente...

E sorrio à toa!

*O chocolate quente, de que eu tanto gosto, nesse calor, ficou inviável. Minhas paradas em cafeterias, aqui, são regadas a 'Icepresso', 'Frappuccinos' ou 'Peach Lemongrass Iced Tea', que eu adoro e são muito refrescantes.

domingo, 11 de julho de 2010

Eu escrevo para ser feliz.

Como a viagem não me consente muito tempo para blogar (ótimo sinal!), deixo que o grande Ferreira Gullar fale por mim. O assunto é poesia, embora eu acredite que isso valha para toda forma de palavra escrita.

“(...) quando vou escrever (...), a página está em branco, e isso significa que todas as possibilidades estão abertas, são infinitas. No momento em que sorteio uma palavra, reduzo as possibilidades, o acaso é menor. Mas não sei o que vai acontecer.

(...) (Escrever) é cura, não doença. Escrevo para ser feliz, para me libertar do sofrimento, não para sofrer. É a alquimia da dor em alegria estética. Mesmo quando a coisa é doída, amarga, naquele momento a transformo no ouro (que é a escrita) (...). Discordo quando dizem que a arte revela a realidade. Na verdade, a arte inventa a realidade. Afirmam que Shakespeare revelou a complexidade da alma humana; não, ele inventou a complexidade da alma humana. Nós vivemos no mundo da cultura. (...) (Escrever) é uma dessas criações, no terreno da fantasia, que existe porque a vida não basta. Eu escrevo para ser feliz, escrevo porque estou me inventando, para ser melhor do que sou.

Eu sou incoerente, e a minha obra é incoerente.  Não tenho a preocupação da coerência. Se há alguma, está na busca, que muda sempre, porque, enquanto vivo, critico, penso, repenso e invento as coisas que experimentei. Se você quer (escrever) (...), se sente dentro de si essa necessidade, deve se entregar a ela sempre com paixão, pois não se inventa a realidade de graça”.

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte;
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

(Ferreira Gullar)

sábado, 10 de julho de 2010

Quando me amei de verdade.

“Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome: autoestima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia e meu sofrimento emocional não passam de um sinal de que estou indo contra minhas verdades. Hoje sei que isso é autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável… Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Sei que isso é simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei menos vezes. Hoje descobri a humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é saber viver!”  
(Charles Chaplin).

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Duas em mim.


Na trivialidade de atitudes mais do que prosaicas, tenho descoberto uma outra pessoa habitando meu interior.

Não é que eu tenha a sensação de estar ‘mudando’ a minha essência. É que sinto, cada vez mais, existirem em mim duas mulheres. O complicado é saber identificar, com segurança, em quais situações uma predomina sobre a outra.

Talvez nem haja tal predomínio. Acho, apenas, que uma delas mudou-se para cá, para dentro de mim, mais recentemente. Pode, todavia, ser que ela sempre tenha estado aqui, mas preferido não se manifestar até então. Talvez tenha aguardado um momento oportuno para se fazer perceber.

Quando essa nova ‘inquilina’ se comunica comigo, é introspectivamente, falando baixinho, ainda meio tímida, preocupada em não causar agitação no meu interior – no que, aliás, difere muito da outra, que é inquieta, insegura e me provoca ansiedade.

Nesse caso, então, somos três: minhas duas habitantes e eu, caminhando de mãos dadas, seguindo a mesma estrada: a do autoconhecimento.

Em alguns momentos, as duas se convergem e se fundem numa só. Mas, felizmente, muitas vezes, experimento a sensação de que, sendo distintas, mesmo que íntimas, elas se compensam. E me presenteiam com o tão almejado equilíbrio.

Porque onde uma falta, a outra comparece. Onde uma grita, a outra cala. Onde uma busca incessantemente, a outra espera pacientemente. Onde uma escurece, a outra ilumina. Onde uma é razão, a outra é emoção. Onde uma se acovarda, a outra se encoraja. Onde uma se inapetece, a outra se alimenta.

E assim me preenchem e me forçam a seguir em frente, nessa busca saudável, mas sem fim, por estabilidade emocional na minha agitada existência. 

Abro-me às duas: à velha conhecida, que me faz tão vulnerável e menina; e à nova, que veio ao nosso encontro, e me faz tão confiante e mulher. Assim, respiro a suficiência de ser três, numa forma exclusivamente minha de reflexão. E me apaixono por isso!

Como é incrível sentir-me sozinha com elas! Somos as três ‘metades’ da mesma pessoa. Parece estranho para você? Para mim tem feito completo sentido.

“It was just another night with the sun set and the moon rise, not so far behind, to give us just enough light to lay down underneath the stars, listen to all the translations of the stories across the sky… we drew our own constellations”.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Assim eu me defino.

"Eu gosto do impossível, tenho medo do provável, dou risada do ridículo e choro porque tenho vontade, mas nem sempre tenho motivo. Tenho um sorriso confiante que às vezes não demonstra o tanto de insegurança por trás dele. Sou inconstante e talvez imprevisível. Não gosto de rotina. Eu amo de verdade aqueles pra quem eu digo isso, e me irrito de forma inexplicável quando não botam fé nas minhas palavras. Nem sempre coloco em prática aquilo que julgo certo. São poucas as pessoas pra quem eu me explico..."

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A efemeridade do amor.

- A gente tem uma identificação incrível!
- Concordo plenamente.

(...)

- Eu gosto do verão.
- Ah, eu adoro o inverno!

- Ih, então, vamos terminar?
- Acho melhor.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Aeroportos


Eu sempre gostei MUITO do ‘clima’ de salões de embarque e saguões de aeroportos. Pessoas vivenciando a expectativa de partir ou chegar, reencontrar-se ou despedir-se,  ‘deixar pra trás’ ou ‘ir buscar’, explorar novos horizontes ou voltar para lugares que são velhos conhecidos, cada qual com seu propósito de viagem.

Pode parecer estranho, mas eu ADORO escalas, principalmente quando estou sozinha! Fazer uma pausa no meio do trajeto faz mais gostosa a sensação de ‘chegar lá’, para aonde estou indo, e me dá a chance de vivenciar algumas situações que não vivenciaria se estivesse acompanhada.

Um dos motivos de eu gostar tanto desse ambiente de aeroporto é poder observar o comportamento de pessoas tão diversas, falando idiomas distintos, escancarando suas diferenças culturais, sem a menor preocupação, cada uma à sua maneira.

Mas a melhor parte é poder confundir-me no meio dessas mesmas pessoas, ser apenas mais uma no contexto dinâmico desse vai-e-vem de aeroporto. Passar algumas horas sem que ninguém ao meu redor tenha a menor idéia de quem eu sou é uma experiência revigorante!

Poder caminhar, esticar as pernas, ler, tomar um café, fazer palavras cruzadas, sem me preocupar se alguém está me observando, enquanto sou apenas eu mesma - o que pode parecer nada de especial para os outros, mas que é extremamente enriquecedor para mim. Até ser distraída do que estou fazendo pelas frequentes chamadas de chegadas e partidas parece ter um saborzinho especial.

Mas é, certamente, uma experiência pela qual tenho que passar sozinha para aproveitá-la na plenitude; apenas estando lá, desfrutando da minha agradável companhia.

...

E, como não poderia deixar de ser, também ADORO as cafeterias e livrarias de aeroporto (quem me conhece sabe!)! E, ah, os restaurantes, claro!, onde, aliás, hoje, vou ter a oportunidade de pedir: “Table for one, please!”, sem o menor ressentimento de estar almoçando sozinha. :)


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".

[Pra você, que foi uma doce epifania na minha vida.]


Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. (...) Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão (...). 

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

(...) A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. (...)

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

Texto de Caio Fernando Abreu (Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)

Feel free to hate me!


Eu faço 32 anos mês que vem e tenho que encarar a triste realidade de que tudo aquilo que eu queria ‘ser quando crescer’ não se concretizou – e está longe de se concretizar. Mea culpa, mea maxima culpa, eu sei. Mas tem sido difícil aceitar que não estou vivendo nada daquilo que gostaria de estar depois dos trinta. Tenho a sensação de que todos os meus amigos estão se encontrando ou já se encontraram; e que a minha vez nunca chega. Isso cansa, chateia, desanima!

Não posso mais fazer besteiras achando que ainda tenho todo o tempo do mundo para me encontrar, porque isso simplesmente não é mais verdade. Tampouco posso ser moderada e comedida, porque cada oportunidade que se apresenta vem com um rótulo de ‘possível última chance’.

Fazer planos, quem me conhece sabe, é quase uma piada na minha vida; eles nunca se concretizam. Parece que tudo que fui até hoje, fui pela metade: meio filha, meio mãe, meio amiga, meio namorada, meio amante, meio mulher, meio estudante, meio profissional.

Muita gente diz que me acha interessante, que reconhece meus atributos. Contudo, tem sempre um ‘mas’ que me faz inadequada para tudo: para aquela vaga de emprego, para aquela relação amorosa, para aquela amizade verdadeira, e por aí vai.

Se eu não posso mais ser irresponsável, mas as responsabilidades que me são possíveis assumir não me realizam, o que me resta, então? Se eu amo incondicionalmente, mas ninguém é capaz de me amar assim, qual o propósito?

Sabe? Cansei... feel free to hate me from now on! And maybe I'll hate you too!

Brincadeira divertida essa!

Aquilo que eu costumo apelidar de ‘minha’ vida decidiu divertir-se às custas da frágil estabilidade emocional que tento manter e transformou-se em um divertidíssimo jogo de TETRIS!
 
Peças estranhas despencam pesadamente sobre a minha cabeça, vindas não sei de onde, a uma velocidade cada vez maior, deixando lacunas impossíveis de serem preenchidas nas linhas da minha existência.
 
Me empenho quase que obstinadamente na tentativa de eliminá-las, mas cada aparente ‘acerto’ leva a um ritmo ainda mais acelerado de queda, o que acaba por deixar tudo fora de controle e cada vez mais lacunas com as quais tenho que conviver. A brincadeira fica insustentável e eu sei, antecipadamente, que o caos é meramente uma questão de tempo.  Qual a graça dessa brincadeira?
 
O game over é inevitável. Não fui eu que fiz as regras.  E eu sequer queria jogar.


domingo, 4 de julho de 2010

Amor incondicional.

Amar não é aceitar tudo. Onde tudo é aceito, presumo que há falta de amor.” 
(Vladimir Maiakovski)


Já questionei muito a existência do amor incondicional. Duvidava dela com todas as minhas forças interiores. Até que, há poucas semanas, foi-me emprestada uma definição tão simples e tão apropriada para esse sentimento, que descobri que eu mesma sou, sim, capaz de amar incondicionalmente. E que até já amei; só não tinha me dado conta.

Amei incondicionalmente meu pai; amo incondicionalmente meu filho e alguns poucos amigos. Já amei incondicionalmente duas pessoas com quem vivenciei uma relação homem-mulher. E amei, mais incondicionalmente ainda, as efêmeras possibilidades de amor que nunca se concretizaram.

A definição que eu gosto, e que me esclareceu muita coisa acerca desse sentimento, é do físico e psicólogo Peter Russell, em Acordando em Tempo, onde o autor trata, com peculiar sensibilidade e simplicidade, das inquietações mais comuns da humanidade, por meio de uma visão que integra a natureza evolutiva da civilização à busca incessante pela harmonia e pela paz interior.

Amor incondicional não é a aprovação incondicional das ações de alguém, sem considerar seus efeitos sobre os outros. É amor incondicional ao ser que está por trás das ações. (O amor incondicional) não depende do modo que uma pessoa pensa, sente ou se comporta. Não faz uma pausa para avaliar se o outro é ou não digno de afeição”. (Russell, 2006).

Definição tão simples e tão verdadeira! Porque amar incondicionalmente é isso: é não ficar aprisionado em palavras, gestos ou eventos conjunturais; é amar com desinteresse, compaixão, inclusão, perdão, tolerância, compreensão e desapego; é amar sem posse; é perdoar com sabedoria, justiça – e até gratidão – as dores causadas pelas desilusões habitadas no cotidiano; é compreender que tudo isso é diminuto quando comparado à grandeza da alma de quem se ama.

É por isso que, muitas vezes, temos que deixar partirem aqueles que amamos incondicionalmente. Porque “o verdadeiro amor liberta, deixa ir e continua a querer bem”.

Aliás – perdoe-me, Russell –, mas a melhor definição de amor incondicional de que eu já tomei conhecimento, veio de uma criança de 3 anos, quando, tão inteligentemente, esclareceu à mãe: “I love you, but I don’t like you ALL the time”. E a mãe, mais inteligentemente ainda, agradeceu esse amor.

Pare para pensar quanta verdade existe nessas declarações. Amar incondicionalmente, para mim, é isso. É amar além; é amar apesar de. Sem necessariamente aprovar ou ser correspondido.

sábado, 3 de julho de 2010

Futebol para mulheres.















Eu, que não sou frequentadora lá muito assídua de salões de beleza – minhas unhas das mãos quase sempre ‘por fazer’ facilmente me denunciam –, passei a manhã inteira deste sábado vivenciando as ‘mulherices’ típicas de um salão de cabeleireiro, justamente durante o jogo Alemanha x Argentina. Foi uma experiência única na minha vida!
 
É curioso observar como, em época de Copa do Mundo, o universo feminino insere-se no contexto futebolístico com a maior naturalidade. Mesma naturalidade, aliás, com que o abandona ao final do campeonato.
 
Por mais que a presença de mulheres nas arquibancadas, nos campos, nas coberturas esportivas e na arbitragem seja mais comum hoje do que há poucos anos, o futebol ainda é um espaço fundamentalmente masculino.    
 
Eu, para quem não sabe, sou ‘ex’ de preparador físico, e, portanto, vivi imersa no mundo da bola, vivenciando o esporte no dia a dia, dos bastidores aos gramados. Aprecio o futebol, sem ‘muito orgulho’ nem ‘muito amor’ por algum time em especial (‘código de família’ ou ‘piada interna’: nós torcíamos para quem pagava o salário). Não tenho um time do coração, mas me interesso muito pelo assunto.
 
Na faculdade, escolhi o futebol como tema para um trabalho de Sociologia; na gaveta, guardo uma coleção de artigos sobre o assunto; na estante, tenho um livro ou outro relacionado ao mais brasileiro dos esportes; no computador, muitos PDFs, documentários e alguns curtas-metragens.
 
Além disso, sem titubear, troco o cinema de domingo à tarde por um ingresso de arquibancada.
 
O que presenciei hoje, durante a partida que mandou o Pibe de volta para casa, era a deixa que eu precisava para falar sobre o assunto.
 
O cenário era bastante peculiar: aquela mulherada, de toda idade, super à vontade, descalça, com alumínios nos cabelos, assoprando as unhas recém-pintadas ou levando violentas escovadas na cabeça ao som de secadores quase tão barulhentos quanto as insuportáveis vuvuzelas.
 
Todas, com olhos atentos voltados para a televisão, torciam entusiasticamente – contra a Argentina, claro! –, interpretavam os lances da partida – sem medo de falar bobagem (e como falavam!) –, contestavam a arbitragem, vibravam com as enfiadas de bola na área argentina, lamentavam as chances de gol desperdiçadas pela seleção alemã e gritavam comentários hilários quando o ataque sul-americano chegava com perigo.
 
Elas não sabiam quem era Messi, Romero, Higuaín, Otamendi (pelo menos, até o lateral levar cartão amarelo) ou Di Maria – algumas se lembravam de Carlitos Tevez - ; mas sabiam, muito bem, que queriam Maradona fora da Copa. De quatro, melhor ainda! Cada gol sofrido pela seleção argentina era comemorado como se triunfo brasileiro fosse.
 
Foram algumas horas de bastante diversão! Para elas, que se regozijaram com a humilhante derrota por 4 a 0 da seleção de nuestros hermanos; e para mim, que as observava vibrarem sem nenhum compromisso com coerência futebolística.
 
Hoje, é verdade, dedico muito menos do meu tempo acompanhando campeonatos de futebol, por aqui e pelo mundo afora, e tenho muito menos arcabouço pra discutir o assunto com os torcedores fanáticos.
 
Mas ainda gosto do imprevisível e dramático espetáculo que se desenvolve durante uma partida. Adoro sentir a arquibancada tremer sob meus pés, durante o entusiasmo coletivo e coreográfico da torcida! E nunca vou me esquecer da sensação de olhar o Maracanã pela primeira vez – foi mais ou menos como ver o Big Ben. :)
 
Por isso, mulheres, amantes ou não amantes da bola, com o Brasil desclassificado e a Copa chegando ao fim, lembrem-se: o futebol não precisa ser um inimigo da relação com seus namorados/noivos/maridos. 

Se não estiverem dispostas, como eu estive, a acompanhar Brasileirão (não pense que é só Série A, não), Paulista, Copa do Brasil, Sul-americana, Libertadores, Champions League, Campeonato Espanhol, Italiano, Inglês, Copa Africana de Nações e até Paulista Sub-15 e Sub-17, saibam que, até 2014, há tempo de sobra para se aprender um pouco mais sobre o esporte bretão.
 
Futebol é pra todo mundo. A FIFA tem mais integrantes do que a ONU.


...


























E um simples toque de mãos fez demonstrar que tudo – ou quase tudo – estava em ordem novamente, como eles pretendiam. A diplomacia deu lugar à intimidade. Não à velha e confortável intimidade com a qual estavam acostumados a lidar, mas a uma nova, com a qual terão de aprender a conviver. Só os olhos já não bastam mais para dizer verdades. Hoje são necessárias palavras. Nem tudo é mais como era.

E foi assim que, com uma boa dose de civilidade, do pequeno caos fez-se a calmaria.

E ela viaja em paz.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Aceitas um desafio?

Tenho meus atrativos, é verdade. Mas não sou nada fácil. Pergunta àqueles que me deixaram de amar. São os que melhor me conhecem.

Levo o desassossego dentro do peito, a ansiedade no âmago, a indecisão estampada na testa e a insegurança na essência. Meu exterior pode parecer sereno, mas meu interior é um tsunami. Minhas atitudes confiantes nem sempre demonstram o tanto de dúvida que vai dentro de mim.

Minha alma é livre; não se deixa aprisionar. Quanto mais lhe exigem, menos se sente disposta a doar. É generosa, mas não suporta cobranças e quase nunca está disponível para o ciúme.

Meu coração é instável; desinteressa-se à toa. Hoje, quer desesperadamente; amanhã, não pode nem ouvir falar. Muda conforme a lua. Mas, quando ama, ama incondicionalmente – o que, fique claro, nada tem a ver com aprovar incondicionalmente. Não se contenta com pouco; necessita daquilo que lhe rouba algumas batidas.

Meu ritmo mental é alucinante e minha sede de conhecimento, poucos acompanham. Sou uma palavra que não cala, uma alma que nunca se sacia. Sou tão profunda, que muitos se afogam em mim.

Interesso-me por tantas coisas, que fica difícil manter um foco e me dedicar a elas o suficiente para que eu me sinta plenamente realizada. E a cada ciclo, acrescento novas coisas à lista de paixões, interesses, hobbies e projetos inacabados. E enquanto o universo de possibilidades se amplia, eu sigo sem dar conta de tudo.

Chego a ser pesada!  Estou sempre buscando respostas e entendimentos. Às vezes, gostaria de não ser tão complexa. Invejo a simplicidade; ela permite desfrutar melhor do trivial.

Cultivo o vício quase insano de ler e a necessidade basal de escrever – me ajuda a organizar os pensamentos. Por isso, venero o silêncio e a solidão. Às vezes, afasto de mim quem tenta se aproximar.

Adoro sorrir! Mas, de tempos em tempos, preciso muito chorar. Perco o sono ao menor sinal de angústia e enfrento a insônia como uma criança com medo do “bicho papão” embaixo da cama. Quem me entende desse jeito?

Queres saber? Proponho-te um desafio: Tentes gostar de mim, assim, do jeito que eu sou.

Já adianto: muitos falharam.