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domingo, 11 de julho de 2010

Eu escrevo para ser feliz.

Como a viagem não me consente muito tempo para blogar (ótimo sinal!), deixo que o grande Ferreira Gullar fale por mim. O assunto é poesia, embora eu acredite que isso valha para toda forma de palavra escrita.

“(...) quando vou escrever (...), a página está em branco, e isso significa que todas as possibilidades estão abertas, são infinitas. No momento em que sorteio uma palavra, reduzo as possibilidades, o acaso é menor. Mas não sei o que vai acontecer.

(...) (Escrever) é cura, não doença. Escrevo para ser feliz, para me libertar do sofrimento, não para sofrer. É a alquimia da dor em alegria estética. Mesmo quando a coisa é doída, amarga, naquele momento a transformo no ouro (que é a escrita) (...). Discordo quando dizem que a arte revela a realidade. Na verdade, a arte inventa a realidade. Afirmam que Shakespeare revelou a complexidade da alma humana; não, ele inventou a complexidade da alma humana. Nós vivemos no mundo da cultura. (...) (Escrever) é uma dessas criações, no terreno da fantasia, que existe porque a vida não basta. Eu escrevo para ser feliz, escrevo porque estou me inventando, para ser melhor do que sou.

Eu sou incoerente, e a minha obra é incoerente.  Não tenho a preocupação da coerência. Se há alguma, está na busca, que muda sempre, porque, enquanto vivo, critico, penso, repenso e invento as coisas que experimentei. Se você quer (escrever) (...), se sente dentro de si essa necessidade, deve se entregar a ela sempre com paixão, pois não se inventa a realidade de graça”.

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte;
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

(Ferreira Gullar)

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